Sommeliers se formam em Maceió
Degustar vinhos de todos os tipos é um hobby para muitas pessoas e um dos grandes prazeres da humanidade desde tempos remotos. Porém, para muita gente, saborear um bom vinho é um trabalho. O sommelier é o profissional especialista na degustação de bebidas, principalmente vinhos. Além de ser uma profissão por si só, ter a formação de sommelier é algo almejado por diversos profissionais do ramo da culinária, como chefs e comerciantes de vinhos, por exemplo. Segundo especialistas, o mercado de vinhos está em constante expansão e, aqui no estado, foi fundada a Associação Brasileira de Sommeliers de Alagoas (ABS/AL) em dezembro de 2021. No mês passado, a ABS/AL formou a primeira turma genuinamente alagoana. Mas, afinal, o que é ser um bom sommelier?
O presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de Alagoas, Patrick Neufville, responde. “Um bom sommelier é, primeiro, um bom conhecedor do vinho que ele vai beber. Tem que ser alguém que compreenda o que o produtor quer mostrar com essa bebida. O bom sommelier tem que compreender a dor psicológica do consumidor que não entende o vinho. Então, tem que ser um bom técnico, um bom conhecedor e, ao mesmo tempo, um bom psicólogo, que vai saber ofertar um bom vinho para o cliente”, explica. O presidente da ABS/AL vai além e também diz que ser um sommelier é “uma questão de vocação e paixão”.
“Não precisa necessariamente ser um profissional que trabalhe em restaurantes. Existem vários ramos, como distribuição de vinhos, importação de vinhos, área de varejo e até mesmo padarias que vendem vinhos”, fala o presidente. Mas, para uma profissão que lida com algo tão específico, como está o mercado? Neufville afirma que o mercado de vinhos está aquecido e em crescimento. “O consumo está em expansão, até por isso que a ABS veio para Alagoas também. Mas quando você compara o Brasil com a França, por exemplo, o Brasil tem muito o que crescer. Estatisticamente, uma pessoa no Brasil consome três litros de vinho por ano. Já na França esse número sobe para 47 litros por pessoa”, disse.
É importante ressaltar que a ABS existe em todo território brasileiro. Existe a ABS geral, que corresponde à associação nacional, e existe, por exemplo, as principais regionais, que estão em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No Nordeste, além de Alagoas, existem a de Pernambuco e Ceará.
Conforme ABS/AL, não há regulamento que padronize salário
O presidente da ABS/AL afirma que não há nenhum regulamento que padronize o salário de um sommelier. “Existe uma negociação entre o profissional e o dono do estabelecimento. Mas entendemos que o sommelier deve ganhar, se não o equivalente, 10% a mais do que qualquer maître de restaurante. Como o mercado de trabalho está escasso de profissionais assim, então ele tem mais chance de achar um emprego em um lugar que oferta uma bela carta de vinho, sendo ele próprio também responsável pela elaboração dessa carta de vinho”, afirmou.
E onde um profissional sommelier pode trabalhar em Maceió? Neufville diz que vários hotéis da capital alagoana possuem carta de vinho, mas só um, segundo ele, possui sommelier.
“Não está se dando a devida importância ao sommelier, porque tanto faz. O profissional de hotelaria acha que restaurante é um ‘mal necessário’. É preciso mudar um pouco a cabeça desses profissionais. A realidade clara e crua é que vamos formar sommeliers e amanhã eles vão embora. Nós temos poucos restaurantes em Maceió que possuem sommeliers e o Maria Antonieta [localizado na Jatiúca] é o mais vistoso. Tinha quatro sommeliers no ano passado e, neste ano, tem mais três. Ou seja, a melhor adega de restaurantes em Maceió é no Maria Antonieta. E eles têm razão de colocar muitos sommeliers, porque eles têm muitos vinhos para vender”, pontua o presidente da ABS/AL.
Apesar de poucos restaurantes em Maceió possuírem sommeliers, Neufville assinala que todos os estabelecimentos que trabalham com vinhos na cidade estão aptos a receber o trabalho de um sommelier. “Quem escolhe fazer uma carta de vinhos precisa ter um sommelier”, declara. Patrick cita que, fora restaurantes, há lojas de vinhos que possuem sommeliers. “Mas, se você colocar isso nos dedos da mão, são 4 ou 5 [em Maceió]. Então, há um espaço enorme para ser ocupado por esse profissional na cidade”, diz o presidente. Ou seja, apesar do espaço que existe na cidade para os profissionais, onde diversos estabelecimentos trabalham com vinhos, os próprios estabelecimentos não contratam.
Degustação profissional envolve utilização de todos os sentidos
Patrick Neufville diz que o que é feito em um curso para sommeliers é ensinar a metodologia para se desenvolver todos os sentidos usados pelo profissional no momento da degustação. Neufville refere-se a esse desenvolvimento de sentidos, como educação sensorial. “Visão, olfato, paladar ou mesmo o tato, que é muito importante para sentir a temperatura, e audição, que faz parte da concentração mental na hora de provar a bebida”, declara.
Além da educação sensorial, existe também todo um conhecimento teórico que o sommelier aprende em um curso, como a história do vinho de cada nacionalidade, entre outros aprendizados.
PRIMEIRA TURMA
No dia 24 de fevereiro passado, a ABS/AL formou a primeira turma de sommeliers de Alagoas. A cerimônia de entrega de diplomas aconteceu no Restaurante Maria Antonieta, na Jatiúca. Ao todo, 24 profissionais foram certificados como sommeliers.
Roberta Drummond saiu de um hobby para um ambiente profissional. A sommelier diz que a paixão por vinhos se transformou em trabalho. Ela possui uma loja online. “Com a ABS Alagoas, eu acredito que a gente traz um novo mercado para o estado com relação a vinhos. Acredito que o período de pandemia que passamos também fez com que as pessoas ampliassem o horizonte em relação ao vinho. Também tem a questão do paradigma de que o Nordeste, pelo clima, seria muito quente para se consumir vinho. A gente vem conseguindo quebrar esse paradigma. O Nordeste bebe sim vinho e ele se adequa muito bem ao nosso ambiente”, afirmou Roberta, que vende vinhos através do perfil no Instagram @beta_wines.
O primeiro lugar do curso de formação de sommeliers da ABS/AL foi Robson Tomás. Ele morou por 20 anos em São Paulo, onde trabalhava com gastronomia. “Consegui adquirir uma experiência muito boa. Eu tenho outro curso de sommelier em outra escola, mas não teve a abrangência que teve o curso da ABS/AL, que nos proporcionou uma experiência única em Alagoas. Sou muito grato por isso”, disse.Por Rívison Batista com Tribuna Independente