OAB acompanhará denúncias de mulheres contra cirurgião plástico
A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Alagoas (OAB/AL) por meio da Comissão de Direito Médico e da Saúde vai acompanhar as denúncias de um grupo formado por mais de 20 mulheres que denunciam um suposto erro médico em cirurgias plásticas e falta de assistência pelo cirurgião Felipe Mendonça, em Maceió.
Segundo a advogada Julia Nunes, que está acompanhando o grupo, e que também é presidente da Associação AME – entidade sem fins lucrativos que acolhe mulheres vítimas de violência, mais de 10 denúncias já foram formalizadas. “Desde segunda-feira, não param de chegar novos relatos. Já foram formalizadas 13 denúncias através da Delegacia Interativa”, afirmou.
O presidente da Comissão de Direito Médico e da Saúde da OAB Alagoas, José Tenório Gameleira, informou que uma reunião foi marcada para hoje, com a advogada que está acompanhando o caso e com as pacientes para buscar a melhor estratégia, “inclusive, conforme o caso, ingressar junto ao CRM (Conselho Regional de Medicina) representação em face do médico”.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) – Regional Alagoas não comentou sobre o caso, mas afirmou que, em casos de denúncias envolvendo membros da Regional, adota medidas para apurar a conduta profissional do associado e, se necessário, aplicar as sanções cabíveis.
“Embora não possamos comentar especificamente sobre o caso em questão, é importante lembrar que a prática da medicina é complexa e que, em muitos casos, pode haver imprevisibilidade sobre a reação do organismo operado, a exemplo de fenômenos de cicatrização, acomodação e retração dos tecidos. Essas variáveis podem afetar o resultado final da cirurgia, mesmo quando todos os protocolos e cuidados foram seguidos”, disse em nota.
O órgão afirmou ainda que cada caso é único e deve ser analisado de forma individualizada. “Cada paciente tem sua particularidade e reage de maneira diferente aos procedimentos cirúrgicos. Reafirmamos nosso compromisso com a transparência e com a justiça, sempre agindo em conformidade com as normas éticas e legais da profissão”, concluiu.
Dois processos contra o médico no TJ
De acordo com o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), existem dois processos em trâmite envolvendo o nome do médico, com relação a danos morais decorrentes de possíveis erros médicos em vítimas.
Por meio de nota, o médico disse que até ontem desconhecia a denúncia e afirmou não existir comprovações legais dos supostos erros médicos.
“Inicialmente, é importante esclarecer que, até hoje, não era de meu conhecimento a denúncia da Associação AME. Ressalto que não há nenhum tipo de laudo pericial ou qualquer evidência que corrobore com a alegação de suposto erro médico de minha parte. Tampouco condenação judicial ou ética”, diz trecho da nota.
Segundo Mendonça, desde 2009, ele realiza cerca de 400 cirurgias plásticas por ano e complicações pós-cirúrgicas não implicam automaticamente em responsabilidade do profissional.
“Complicações pós-cirúrgicas há anos são descritas pela literatura médica e previstas em Termo de Consentimento. Sua existência não implica automaticamente na responsabilidade do profissional médico, podendo decorrer por diversos fatores alheios ao ato médico. Desde 2009, realizo cerca de 400 cirurgias plásticas por ano, sendo membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e realizando continuamente cursos de especialização no Brasil e no exterior. Como profissional da saúde, minha prioridade é seguir as normas éticas que regem a profissão, utilizando conhecimento atualizado e me esforçando ao máximo para garantir a saúde e o bem-estar de meus pacientes”, afirmou.
Assistência psicológica
A advogada Julia Nunes contou que a associação tem prestado assistência psicológica às mulheres que estão denunciando o médico e ela tem prestado assistência jurídica, já que a AME não atua juridicamente nessa área.
As mulheres fizeram um grupo para compartilhar fotos e relatos e expor o caso para evitar que outras mulheres passem pela mesma situação. Entre os relatos, assimetria nas mamas, cicatrizes que inflamaram e necrosaram e pontos que abriram.
“Eu já tinha feito uma abdominoplastia, lipo e silicone há uns 10 anos com outro profissional. Procurei ele em 2015 para, novamente, melhorar minha silhueta. Ele me convenceu a fazer uma nova abdominoplastia. Eu o questionei, ele só falava o que queria ouvir e me convenceu. Na primeira consulta pós-operatória já fui perguntando o que ele fez comigo. Ele não conseguiu suturar todo o corte, queimou minha barriga e arranhou meu pescoço. Agradeço por ter saído viva do centro cirúrgico. São quase oito anos de depressão, insônia e por várias vezes pensei em tirar a minha vida. Até hoje, tenho dificuldade para deitar de bruços”, disse uma delas.
Outra mulher disse que fez mastopexia e colocou silicone, em 2018, mas a cicatriz não ficou como deveria. “Me operei com esse açougueiro em 2018. Era um sonho. Quando ouvi relatos de outras pacientes, a mesma coisa aconteceu comigo. Ele dizia que era normal. Era frio no WhatsApp e, quando viu o estrago que ficou, disse que eu procurasse uma dermatologista para fazer tratamento de laser para melhorar a cicatriz. Fui a uma dermatologista e ela disse que não adiantaria”, contou.
“Me falou a mesma coisa e ainda completou que, se eu quisesse, poderia fazer uma auréola de tatuagem. Fui a outros profissionais depois do ocorrido para uma possível intervenção, mas eu teria que perder o máximo de peso para criar um couro, já que precisaria puxar bastante devido ao tamanho”, afirmou outra mulher.
Outra suposta vítima disse que fez mamoplastia e mastopexia há quatro anos com o médico. A recuperação foi tranquila, mas os seios não ficaram simétricos. “Comentei com ele no retorno que não fiquei satisfeita com o resultado final, mas ele falou que não era o resultado final. Enfim, os anos foram se passando e eu fiquei pensando em retornar para ver se existia a possibilidade de refazer, mas fiquei postergando. De vez em quando, sinto umas fisgadas no meu seio esquerdo. Foi justamente esse seio que ele esqueceu de tirar mais pele”, contou.
Outra mulher contou que pagou por abdominoplastia, lipoescultura e enxerto de glúteo, mas nada do que ela pediu e do que ele prometeu foi feito. “Minha cirurgia completou um ano neste mês. Na mesa de cirurgia ele perguntou se poderia fazer uma lipo HD, respondi que sim. Mas tudo que pedi não foi feito e nem ele cumpriu o que prometeu pra mim. Minhas costas estão flácidas e com culote, ao invés de pôr um glúteo ele colocou o quadril. Sem falar na infecção que ele falava que era normal. Não usou dreno porque falou que não era bom para não infeccionar”, afirmou.
Por Luciana Beder – Colaboradora com Tribuna Independente