Agora com infraestrutura nas grotas, bairro de Santo Amaro celebra vida com irreverência
Vista aérea do campinho do bairro do Santo Amaro, o Arena Nivaldão, e no seu entorno as grotas da comunidade - Foto: Edilson Omena
O bairro do Santo Amaro, na parte alta de Maceió, é uma comunidade complexa composta pelas grotas Santo Amaro, Chã Nova, Travessa Florestal, Monte Azul, Conjunto Vitória e Santa Helena, com uma população estimada em mais de 5 mil moradores. Apesar das dificuldades de toda sorte inerentes a uma população pobre com uma renda mensal média em torno de dois salários mínimos, uma luz no fim do túnel em termos de infraestrutura melhorou a qualidade de vida dos moradores do bairro do Santo Amaro e do entorno (ver foto da capa com o conjunto de grotas).
Isso porque o conjunto de grotas perto do bairro foi contemplado com 6,5 quilômetros de escadaria e mais 9,3 quilômetros de corrimão, que facilitam o tráfego de pessoas. Além disso, foram implantados mais de 1,5 quilômetro de canaletas, que têm facilitado o escoamento das águas pluviais, e mais de 270 metros de muros de contenção, que vão garantir a segurança dos moradores na grota. As obras nas grotas tiveram investimento de R$ 15,6 milhões do Governo de Alagoas.
Jogo das Bonecas já é tradição e vai completar 30 anos na comunidade
No Carnaval recente, toda a irreverência da comunidade do Santo Amaro levou cerca de 500 pessoas ao campinho de terra do bairro, o Arena Nivaldão, ponto de encontro da turma para diversas celebrações. Por lá, a comunidade festejou em plena terça-feira de Carnaval os 29 anos do tradicional Jogo das Bonecas, uma “pelada” que reuniu os moradores do Santo Amaro e entorno para assistir a já tradicional partida de futebol entre homens x homens vestidos de mulheres (As Bonecas).
Chico Lima, enfermeiro e um dos fundadores do evento esportivo entre homens e “bonecas”, ressaltou a satisfação em manter a tradição; “Já são 29 anos desse jogo de homens vestidos de mulheres e ano que vem, se Deus quiser, completaremos 30 anos. Aqui temos o pai que começou essa pelada, mas continua com os filhos, os netos e reúne a família e a comunidade no entorno do bairro do Santo Amaro”, comemora Chico.
Outro fundador da atração irreverente é o gráfico Valmir “Michel” Mariz de Oliveira, que ressalta o fato de o jogo e as atividades na comunidade envolverem não só os moradores do bairro. “Estamos com um projeto para envolver os moradores das grotas e resgatar a vizinhança no âmbito social e esportivo”, reforça Michel, devidamente paramentado de mulher ao fazer uma provocação. “O Santo Amaro agora está sendo das bonecas, das meninas!”, brinca Michel, ao comemorar a vitória do time das Bonecas sobre os Homens por 3 a 2.
Árbitro do VAR de “pelada” também participa
Uma das atrações deste ano no futebol da irreverência no Santo Amaro foi o árbitro Ricardo Melo, que se notabilizou em 2021 por usar a “tecnologia” do VAR durante jogo em campo de várzea, poeirão, ou “pelada”, como se dizia antigamente, para tirar a dúvida de um lance polêmico, em uma partida quente entre dois times amadores do conjunto periférico do Eustáquio Gomes, no bairro Cidade Universitária.
Na ocasião, Ricardo Melo ousou consultar o “VAR” improvisado em uma estrutura em cima de uma caminhoneta com uma simples câmera de celular, o que gerou na época protestos e aplausos de torcedores. Ele quase apanha do time perdedor.
Na pelada das “Bonecas”, bem mais calma, Ricardo destacou a alegria de participar do tradicional jogo no Santo Amaro. “Já participo deste jogo das Bonecas há quase 20 anos e é uma alegria. Se bem que notei que as meninas hoje estavam mais nervosas, porque o jogo foi pegado”, brincou o árbitro.
Um dos motivos de orgulho da comunidade do Santo Amaro são dois ex-jogadores cria do bairro: o ex-atacante Gerônimo, com passagens de destaque no CRB e no Vitória da Bahia, onde se consagrou como artilheiro nos anos 1990, e o ex-volante Jaelson, campeão pelo ASA em 2000 e hoje técnico de futebol.
Gerônimo é tão ligado ao bairro que ele mesmo administra o prédio da Associação Pelada dos Amigos, fundada também há quase 30 anos. “Eu amo esse meu pedaço aqui, as pessoas. É onde me criei e aprendi muita coisa boa na vida”, resume o ex-artilheiro regatiano.
Por Wellington Santos com Tribuna Independente