MULHERES NAS ELEIÇÕES
Palavras não se unem em vão. Na política elas trazem consigo interesses pessoais ou de grupos, muitas vezes disfarçados de bondades. Por isso, estar atento ao não dito é quase sempre o caminho mais seguro para quem escuta ou lê, escolher entre as candidatas.
Os vocábulos aqui reunidos desejam firmemente se colocar a serviço daquelas que sustentam a bandeira de maior participação feminina na política com a eleição de mais mulheres. Entretanto, embora possa desagradar alguém, defendem que nem todas elas estão prontas para cumprir o árduo papel de nos representar. Em razão disso, chamam sua atenção para as candidatas que se apresentarão para a disputa eleitoral que ocorrerá nos municípios brasileiros, esse ano, e para os ‘não ditos’ de suas falas.
Algumas leitoras afirmarão que a mulher menos preparada nos representará melhor do que um homem. Ainda que assim fosse, não haveria razão para escolhê-la porque candidatas qualificadas estarão na disputa. É preciso entender que a absoluta urgência de aumentar a representação feminina nos parlamentos e nos executivos não acoberta que para as causas femininas é contraproducente votar em mulheres conservadoras, porque elas em suas falas e condutas reforçam as opressões presentes no comportamento masculino, que se manifesta na relação de poder historicamente desigual entre mulheres e homens e ofende a nossa dignidade.
Apenas a título de exemplo, usarei o discurso de Michele Bolsonaro na avenida Paulista. Disse ela: ‘por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de dizer que não poderiam misturar política com religião. E o mal tomou e o mal ocupou o espaço’. O dito promete o fim de todos os males em governos religiosos. E o não dito? O não dito além de desejos inconfessáveis esconde que da mistura de religião com política nasce uma teocracia e mata-se uma democracia.
Quem hoje aplaude certamente não sabe que altar e trono já estiveram juntos definindo o comportamento das mulheres e impedindo que outras crenças fossem professadas, aqui no Brasil, e há lugares no mundo, como no Irã, onde isso ainda ocorre. À época ‘o sagrado’ abençoou os governos brasileiros e em troca ganhou o monopólio da crença e dos costumes. Só a igreja católica podia existir e sua doutrina era obrigatória para todos. Naquele tempo não havia espaço para os dogmas que orientam as falas da ex primeira dama e, no governo que ela almeja não haverá lugar para você, que não seja a servidão.
Também não existirá liberdade para se questionar as ações dos que estarão no poder. Porque numa teocracia não há limites para os governantes, já que eles são os representantes de Deus na Terra. São os escolhidos. São os ungidos. Àqueles que receberam a capacitação divina para cumprir uma missão. Àqueles que agem pelo Senhor. Sendo assim, seus decretos são divinos e a eles ninguém pode se opor. Desse modo, é seguro dizer que em toda teocrata habita o querer irrevelável de instalar um governo totalitário. E em regimes como este as mulheres perdem a liberdade e são mortas. No passado distante, em fogueiras. No presente, na prisão, pelo não uso do véu sagrado.
Politize-se! Atente-se aos ‘não ditos’! E nas próximas eleições escolha ser livre.
Fonte: Jornal do Interior/ Lúcia Barbosa