Reunião com Renan Calheiros retoma debate de indenização das vítimas do crime ambiental da Braskem
Na última quarta-feira (05), o senador Renan Calheiros recebeu as vítimas da Braskem dos Flexais, Marquês de Abrantes e Pinheiro, além do defensor público Ricardo Melro, o advogado Carlos Lima, representando a OAB Alagoas, além de pesquisadores e professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), Associação dos Empreendedores do Pinheiro. Na reunião, os moradores dos bairros afetados pelo maior crime ambiental registrado em região urbana relataram como estão os pagamentos das indenizações e a mobilização para garantir que o crime não seja esquecido.
O debate sobre a venda das ações da mineradora foi retomado nacionalmente e o senador utilizou a tribuna do Senado Federal para levar o tema para o conhecimento de todo o país. Para ele, não se pode discutir vendas de ações enquanto as vítimas do crime ambiental não sejam indenizadas da maneira correta. O valor destinado pela empresa para ressarcir todas as vítimas, R$ 8 bilhões, é insuficiente para quitar todos os prejuízos, que incluem a perda de hospitais, escolas, creches, estações de tratamento de água e de terras, além do prejuízo estimado em mais de R$ 3 bilhões de perda de arrecadação de ICMS de Alagoas.
“Perto de 200 mil alagoanos foram severamente prejudicados, em 15 bairros, por uma atividade inconsequente, criminosa, danosa ao meio ambiente. Não importa, qualquer um pode comprar. A Petrobras poderá elevar a sua participação na Braskem também e não temos, com relação a isso, nenhuma preocupação. A única preocupação que temos, e gostaria de nela insistir, é que qualquer solução para a Braskem passe, em primeiro lugar, pelo pagamento da enorme dívida que a Braskem tem com o estado de Alagoas, com a prefeitura de Maceió e com outras prefeituras da Grande Maceió”, declarou no último dia 29.
Na reunião, os moradores apresentaram suas reivindicações mais urgentes, como as indenizações justas aos moradores e empreendedores afetados; a situação dos moradores dos Flexais, Quebradas, Marquês de Abrantes e Vila Saem que ainda não foram realocados, nem indenizados; o futuro das áreas afetadas pelo afundamento do solo; a situação do cemitério Santo Antônio, localizado em Bebedouro, as famílias perderam seus jazigos, além de não poder mais sepultar seus entes.
Para o empresário e membro da Associação dos Empreendedores no Pinheiro e Região Afetada pela Braskem, Alexandre Sampaio, a reunião foi positiva para apresentar ao Senador o valor real da dívida que a Braskem tem com suas vítimas. “O principal objetivo foi quantificar o valor total que a Braskem deve às vítimas, impedindo que ela seja vendida sem antes pagar o justo aos moradores, trabalhadores e empreendedores. Estimamos que ela deve 10 vezes mais que os R$ 3,4 bilhões que pagou até janeiro de 23. Ou seja, as articulações perversas da Braskem com as autoridades, em todos os níveis, ajudaram a ela economizar R$ 30 bilhões com o sofrimento das vítimas e ainda transformar o maior crime socioambiental do mundo em área urbana no maior negócio imobiliário do planeta, pois o Acordo Socioambiental permite que, com a aprovação do novo plano diretor, a Braskem possa transformar o bairro que ela destruiu num grande bairro planejado, faturando em torno de R$ 30 bilhões”, informou.
Desde que a capital de Alagoas vivenciou os primeiros tremores, em 2018, os moradores vem denunciando as articulações da empresa para diminuir o tamanho do estrago. Segundo apontamentos, aproximadamente 60 mil pessoas perderam suas residências, 6 mil empreendimentos na região foram forçados a encerrar os trabalhos ou alterar o funcionamento.
“Se a polícia federal investigar seriamente essa tragédia verá que a Braskem é uma criminosa em série e precisa ser punida, junto com seus cúmplices, na forma da lei. A venda da Braskem é mais um capítulo da transferência dessa responsabilidade, dificultando o pagamento das indenizações justas”, denuncia Alexandre, um dos 60 mil atingidos.
Pesquisadores reuniram em um livro intitulado “Rasgando a Cortina de Silêncios: o lado B da exploração do sal-gema de Maceió”, os estudos ao longo desses cinco anos que permite compreender o processo de exploração de sal-gema em Maceió e como se tornou o desastre ambiental.
Nas redes sociais, Renan Calheiros falou sobre os próximos passos. Com a reunião, a proposta é impedir a movimentação financeira da Braskem. “Fizemos uma importantíssima reunião com as vítimas da Braskem e vamos quantificar os danos. Na sequência conversar com o Ministério Público e tentar sugerir algum encaminhamento que possa barrar essa movimentação acionária”, explicou o senador.
Fonte: Jornal de Arapiraca/ Lysanne Ferro