23 de novembro de 2024

Estudantes e professores protestam pela revogação do Novo Ensino Médio em Arapiraca

Mobilização acontece em todo país nesta quarta-feira (15)

“Nada sobre nós sem nós” tem sido o lema dos estudantes secundaristas, universitários, professores do ensino médio e superior, entidades sindicais e movimentos sociais sobre o Novo Ensino Médio que tem sido implementado nas escolas de todo o país. Em Arapiraca, estudantes, professores, técnicos e sindicatos foram às ruas do centro da cidade nesta quarta-feira (15) para cobrar a revogação do novo modelo de ensino, que foi aprovado em 2017 e vem desde então sendo implantado. 

É unânime que o novo modelo impacta negativamente a formação do aluno nas questões escolares e sociais, que escancara as desigualdades no acesso ao ensino, prejudicando os professores que precisam se adaptar a um modelo que não faz parte de nenhuma grade curricular durante a graduação. 

O professor do curso de História da Uneal e membro do Sindicato dos Docentes da Uneal, Luiz Gomes, explica que o Novo Ensino Médio, na prática, agrava ainda mais as desigualdades sociais entre os alunos de escolas particulares e públicas, o que gera um afastamento maior dos alunos de escolas públicas das universidades. “O objetivo desta reforma é fazer com que os alunos das escolas públicas não cheguem na universidade. Parece um absurdo, mas é verdade, porque vai se esvaziar o conteúdo que é cobrado no enem. Enquanto uma escola privada vai continuar dando aulas de história, filosofia, sociologia e outras, nas escolas públicas esses conteúdos serão esvaziados e substituídos por projetos de vida e trilhas, que pode ser qualquer coisa como empreendedorismo, fabricação de algum produto para o mercado local e não vai se ter acesso ao conteúdo universal de história, filosofia e sociologia que é o que é cobrado no enem e é o que forma a nossa juventude”, disse.

Entre as críticas à reforma, está a falta de diálogo e consulta aos profissionais da educação, que podem e devem contribuir nas construções das bases curriculares. Para o professor e membro do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) Janielson Oliveira. “Pensar uma reforma precisa trazer quem são os mais atingidos, que são os estudantes e professores, não houve essa conversa com essas categorias”, ressaltou.

Os estudantes das escolas estaduais que funcionam em Arapiraca estiveram presentes no ato reivindicando a revogação imediata do projeto. O secundarista e presidente do Grêmio da escola Epial Gilberto revelou que alguns estudantes não conseguiram ir pois a direção da escola dificultou a participação dos alunos mesmo com a autorização dos pais. “ A nossa escola não está preparada para receber esse novo ensino médio porque não tem material suficiente, laboratórios equipados, materiais didáticos. A gente não tem livro este ano, a gente não tem nada para começar esse novo ensino médio”, explicou. 

Érica, estudante do 2º ano, é uma das milhares de alunas afetadas pelo projeto e falou do medo e da insegurança que representam a reforma. “Esse projeto veio pra mudar drasticamente as nossas vidas e simplesmente multiplicaram matérias não essenciais e tiraram as que precisamos para o enem. Temas se tornaram matérias e a gente ganhou 44 matérias novas. Multiplicaram a carga horária, as matérias, mas não multiplicaram a estrutura da escola, não multiplicaram a alimentação. A gente não tem psicólogo na escola, quando a gente recebeu a notícia que o novo ensino médio seria essa quantidade de carga horária, todos os segundos anos começaram a chorar, isso foi horrível. Disseram que a gente tinha opção de escolha, mas você não tinha a opção de fazer aquilo que você escolheu”, você faria aquilo que foi designado para fazer”, explicou. 

No papel, o projeto propõe uma formação mais ampla para os estudantes, mas não leva em consideração as realidades das escolas, estudantes, professores e famílias, é o que aponta o professor de filosofia Alex Deivison. “Os alunos dos segundos anos estão com um modelo de itinerário formativo, que é o que tem recebido mais críticas sobre a reforma, do qual eles optam pelas áreas de acordo com a preferência de cada um. A proposta, como discurso, é muito interessante, porque dá ao aluno o direito de escolha para que ele escolha o que ele achar mais interessante, mas algumas nuances da reforma trazem à tona alguns problemas estruturais de ordem prática da implementação da reforma. Será que as nossas escolas estão preparadas para uma reforma nesse sentido? Os nossos professores estão formados para uma reforma dessa? A necessidade de uma reforma no ensino médio é uma questão que de fato precisa ser pautada. O problema é a maneira como essa reforma foi implementada e como ela foi discutida”, ressaltou.

Não são só os estudantes secundaristas afetados pela reforma, os estudantes universitários das licenciaturas também se preocupam com as novas mudanças que afetam a atuação na sala de aula. Segundo o discente do curso de Licenciatura em História, Lucas Gomes, a reforma é mais uma maneira de sucatear a educação brasileira.”Esse novo ensino nos amordaça, tira do aluno o direito constituído por lei de ter acesso a disciplinas que o façam pensar, questionar. História, filosofia e sociologia precisam ser matérias inerentes aos estudantes porque são as que fazem o aluno pensar, questionar e se formar enquanto ser social. Esse projeto desestrutura o que lutamos tanto pra construir desde a primeira constituinte que nos garante esse direito à educação”, salientou.

A reforma, apesar de ter sido aprovada em 2017, só veio ser sentida recentemente ao passo em que foi sendo aplicada. Para contrapor a reforma, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) apresentou como alternativa a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio definidas em 2012 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) que são resultados de extenso debate. O Ministério da Educação abriu consulta pública na última semana para avaliação e reestruturação da política nacional de ensino médio. Entretanto, pesquisadores defendem que o que está colocado para os alunos precisa ser suspendido imediatamente para que se possa construir algo novo, desta vez coletivamente.

Fonte: Jornal de Arapiraca/ Lysanne Ferro