Vinícola Aurora se diz ‘envergonhada’ com trabalho escravo e pede desculpas
A direção da vinícola Aurora pediu desculpas ao povo brasileiro e aos trabalhadores vítimas de trabalho escravo nos vinhedos e afirmou que está “profundamente envergonhada” pelos acontecimentos envolvendo sua relação com a empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA, a terceirizada de Bento Gonçalves (RS).
Disse em carta aberta divulgada no site da empresa que “os recentes acontecimentos envolvendo nossa relação com a empresa Fênix nos envergonham profundamente. Envergonham e enfurecem. Aprendemos com aqueles que vieram antes que, sem trabalho, nada seríamos. O trabalho é sagrado. Trair esse princípio seria trair a nossa história e trair a nós mesmos”.
Um total de 207 homens contratados para trabalhar na colheita de uva foi resgatado no final de fevereiro de um alojamento em Bento Gonçalves, onde eram submetidos a “condições degradantes” e trabalho análogo à escravidão. Os trabalhadores foram recrutados pela empresa Fênix, que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton – algumas das mais importantes produtoras da região.
Em sua grande maioria, os trabalhadores haviam sido recrutados na Bahia e teriam sido enganados após receberem promessa de emprego temporário e de salário de R$ 4 mil, além de alojamento e refeições pagas.
Eles relataram episódios de violência às autoridades, tais como surras com cabo de vassoura, mordidas, choques elétricos e ataques com spray de pimenta, além de más condições de trabalho e alojamento.
“Repudiamos com todas as nossas forças”
Na carta, a Aurora apresenta as “mais sinceras desculpas aos trabalhadores vitimados pela situação”. “A testa daqueles que fazem o Brasil acontecer, todos os dias, às custas do seu suor honesto, deveria estar sempre erguida, orgulhosa, e nunca subjugada pela ganância de uns poucos. Repudiamos isso com todas as nossas forças”, escreveu.
A empresa pediu ainda desculpas ao povo brasileiro como um todo e afirmou que reverá práticas e adotará medidas para que “um episódio indesculpável” como o investigado não volte a acontecer. A Aurora frisou que trabalha em um programa para qualificar a relação com todos os parceiros e ter o controle sobre os processos de produção.
As vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton já haviam divulgado notas afirmando que repudiavam as violações de direitos humanos e que não tinham conhecimento da situação.
Numa carta publicada anteriormente em seu site, a Aurora havia afirmado que não compactuava com “qualquer espécie de atividade considerada, legalmente, como análoga à escravidão” e que se solidarizava com os trabalhadores. Além disso, a empresa havia se colocado à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos e afirmou que estava prestando apoio às vítimas.
“A vinícola está tomando as medidas cabíveis e reitera seu compromisso com todos os direitos humanos e trabalhistas, assim como sempre fez em seus 92 anos”, escreveu. “A Aurora se compromete em reforçar sua política de contratações e revisar os procedimentos quanto à terceiros para que casos isolados como este nunca mais voltem a acontecer.”
Por Éassim