22 de novembro de 2024

Alagoas registra seis mortes de pessoas em situação de rua este ano

Coordenador do MNPR/AL, Rafael Santos (cent.) diz que desde início do ano população tem sofrido com violência - Foto: Cortesia

Números do Movimento Nacional de População de Rua em Alagoas (MNPR/AL) indicam que somente em 2023 ocorreram sete casos de violência contra pessoas em situação de rua. Seis deles resultaram em morte. Mas, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB/AL), o dado ainda é subnotificado e não revela a totalidade dos casos reais.

No mesmo período do ano passado, entre janeiro e fevereiro, não houve registros de mortes pelo MNPR/AL. Já durante todo o ano de 2022, foram registradas dezessete ocorrências.

“Existe uma grande subnotificação dos números. Nós não temos nenhum dado oficial, a realidade é que não temos muitos dados com que trabalhar. Não foi feita nenhuma pesquisa aqui em Alagoas. Existe uma subnotificação muito grande nesse cenário. Como a gente não tem pesquisas que tragam dados oficiais sobre o assunto, fica muito difícil trabalhar”, explicou Neto Gallo, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem.

Um dos casos recentes de violência contra pessoa em situação de rua aconteceu no último dia 10. O fato foi divulgado pela Polícia Civil de Alagoas (PC/AL) na segunda-feira (13) através de um vídeo. As imagens mostram o momento exato em que uma pessoa em situação de rua tenta fugir de um homem armado no bairro do Feitosa, em Maceió. A vítima é atingida pelos disparos e morre.

As cenas divulgadas são de duas câmeras de segurança. A primeira mostra um homem de camisa preta se aproximando da calçada e sacando uma arma. A segunda mostra a vítima correndo e o suspeito correndo atrás dela com a arma na mão.

A equipe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) esteve no local no dia do crime e realizou os primeiros levantamentos do homicídio. A polícia está à procura do suspeito e pede ajuda da população para identificá-lo.

Ainda segundo a Comissão da OAB/AL, denúncias acontecem em sua maioria através do Movimento de População em Situação de Rua ou através da mídia. “A gente atua quando recebe denúncias ou quando temos informações através dos meios de comunicação. Nosso trabalho é notificar e oficiar as autoridades. Realizamos esse trabalho de fazer a denúncia chegar ao Ministério Público, à Secretaria de Segurança Pública, aos delegados e delegacias, que eles realmente investiguem e façam o trabalho deles”, disse.

Outro caso recente aconteceu no dia 28 de janeiro deste ano. Uma mulher em situação de rua foi esfaqueada, no bairro da Cruz das Almas, em Maceió. Uma câmera de segurança registrou o momento do ataque por volta das 20h30.

As imagens mostram a vítima e um homem caminhando, quando começam uma breve discussão. O homem parte para cima dela e a ataca com uma facada entre o pescoço e o ombro direito. Logo depois ele sai do local caminhando normalmente, enquanto a mulher, de 23 anos, fica caída na calçada.

A reportagem entrou em contato com o Hospital Geral do Estado (HGE) para saber a vítima deu entrada na unidade e qual o estado de saúde dela. O órgão informou que não fornece informações sobre vítimas de violência sexual, atentados (feridos por armas branca e de fogo e que sofreram espancamento), reeducandos ou custodiados da Justiça, bem como, sobre os pacientes que atentaram contra a própria vida. “A medida é adotada para resguardar a identidade do paciente e a situação clínica atual.

Após o registro desse caso, Rafael Santos, coordenador do MNPR/AL, declarou em entrevista à um programa de TV local que o aumento da violência contra esse público preocupa.

“Nós do movimento já começamos a acionar o Ministério Público, o Tribunal de Justiça, a Defensoria Pública para dialogar e buscar políticas públicas, porque precisamos ter equipamentos públicos nessas áreas”, disse.

À reportagem da Tribuna Independente, o coordenador disse ainda que, desde o início deste ano, a população em situação de rua tem sofrido com a violência. Dessa vez, as maiores vítimas foram as mulheres. “O que mais nos surpreende é que a própria população de rua está denunciando para o movimento o extermínio no Mercado da Produção. Me espanta ver muitos órgãos em seu comodismo, que deveriam estar fazendo seu papel de guardião da vida. A gente tem lutado contra a violência”, afirmou.

Por Gabriely Castelo – colaboradora