23 de novembro de 2024

Abaixo-assinado pede banimento da Braskem do programa BBB23

Petição direcionada a alagoanos e turistas apresenta afundamentos do solo em cinco bairros da capital e aponta responsável: a Braskem - Foto: Arthur Melo

O programa Big Brother Brasil 23 (BBB23) está na sua segunda semana de exibição. O patrocínio da Braskem na estreia do programa gerou revolta nos internautas alagoanos. Com o anúncio, a petroquímica pretende deixar a casa mais vigiada do Brasil mais sustentável. No entanto, a justificativa não comoveu a população local, que tem conhecimento dos danos que a mineração de sal-gema pela empresa causou a diversos cidadãos em Maceió.

Por isso, os alagoanos fizeram uma carta aberta à Rede Globo, ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), aos anunciantes do Big Brother 23, à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao Ministério Público Federal (MPF) e à nação.

A iniciativa pretende juntar o maior número de assinaturas para a retirada da Braskem do quadro de anunciantes do programa de entretenimento da rede nacional. Na petição, o assinante pode doar uma quantia para a causa, ou ajudar compartilhando.

Com o abaixo-assinado, que pode ser acessado no link “charge.org/p/a-braskem-vai-afundar-o-bbb-23-como-fez-com-maceió”, os assinantes pretendem tornar público que a participação milionária da empresa no reality “é, na verdade, um enorme tapa na cara de mais de 3,5 milhões de alagoanos que, indignados, sofrem de perto os efeitos do megadesastre que a empresa cometeu em Maceió, destruindo literalmente mais de 3 milhões de m² da cidade.”

Até o momento, a petição virtual já contabiliza mais de 4 mil assinaturas. Objetivo é atingir pelo menos 5 mil. Moradores acreditam que, com esse número, é mais provável que o documento apareça na mídia.

Ainda na carta, os moradores se direcionam aos turistas e visitantes do estado. “Não se enganem os turistas e demais brasileiros com o nosso lindo litoral e as belas praias. A menos de 800 metros dali a destruição reina absoluta e a responsável por isso tem nome: Braskem.”

“Empresa financia reality enquanto há famílias sem receber indenização”

Para Neirevanne Nunes, professora, integrante e uma das representantes do Movimento Único Vítimas da Braskem (MUVB), o sentimento é de indignação e é importante que o Brasil e o mundo saibam que a mineradora vende uma falsa imagem de empresa sustentável, tendo causado o maior crime socioambiental em área urbana no mundo.

“Causando a destruição de 5 bairros em Maceió, gerando um contingente de mais de 60 mil refugiados ambientais, porque fomos obrigados a deixar nossos lares, trabalho e toda uma vida por causa da mineração irresponsável de sal-gema. A Braskem está financiando este reality show enquanto têm vítimas que há 3 anos estão sem receber indenização. E as propostas oferecidas pela Braskem pelos imóveis são vergonhosas, pois, na maioria das vezes, não chegam nem à metade do valor real do imóvel”, descreve.

TWITTER

Segundo dados da plataforma Knewin, do Globoplay, Braskem e Rexona foram as marcas mais citadas no Twitter na primeira semana da edição de 2023 do Big Brother Brasil. Os números foram registrados entre os dias 16 e 23 deste mês. O aplicativo Globoplay lidera com 60,65 % das menções. Logo em seguida, a mineradora acompanha com 18,71%.
O deputado federal Paulão (PT), a deputada estadual Cibele Moura (MDB) e a vereadora por Maceió Teca Nelma (PSD) estão entre as centenas de internautas que usaram as redes sociais para criticar o fato de a mineradora ser uma das patrocinadoras da edição 2023 do programa da Rede Globo.

PATROCÍNIO

A edição de 2023 do BBB tem planos de patrocínio que vão de R$ 15 milhões a R$ 105 milhões. Os pacotes, divulgados pela Revista Exame, são divididos em: “Brother” (R$ 15.673.439), “Camarote” (R$ R$ 80.284.155) e “Big” (R$ R$ 105.157.383).

Mas se a empresa quiser aparecer nas dinâmicas do programa, tem que desembolsar R$ 29.528.95 no quadro Mercado; R$ 29.087.35 no Almoço do Anjo; R$ 28.800.374 no Cinema; R$ 31.271.999 no Prêmio; e R$ 29.599.039 no Mimo do Líder.

Além das categorias principais, o reality também abre espaço para marcas nos cômodos da casa, como foi o caso da mineradora, que teve a logo da empresa estampada acima das lixeiras da cozinha do programa na primeira semana e indignou os telespectadores locais.

Os valores a serem desebolsados pelas empresas que querem visibilidade no programa dependem da parceria estabelecida, que pode ser tanto um patrocínio de três meses de programa, quanto uma aparição rápida. 

MUVB protocola carta na secretaria do Fórum Social Mundial

Maurício Sarmento, outro integrante do MUVB, participa do Fórum Social Mundial (FSM) 2023, que acontece em Porto Alegre-RS. Ele está representando o Conselho Nacional de Saúde (CNS), onde ocupa uma cadeira, e contou que ontem (25) o movimento protocolou uma carta na secretaria do Fórum. Nesta quinta-feira (26), a carta será lida durante intervenção da ministra do Meio Ambiente Marina Silva. O evento vai até sábado (28).

O Fórum acontece desde 2001 e o tema dessa edição é “Democracia, direitos dos povos e do planeta – Outro mundo é possível”. Mais de 150 atividades são realizadas por centenas de movimentos e organizações sociais do Brasil e de outros países.

O documento, assinado por três representantes do MUVB, Maurício Sarmento, Cássio de Araújo e Neirenavane Nunes, relembra que em março de 2023 completam-se cinco anos da ocorrência do primeiro tremor que fez com que o afundamento do solo em Maceió viesse à tona e, mesmo assim, muitas vítimas não foram indenizadas ou receberam propostas injustas.
“Os valores oferecidos como indenização é vergonhoso e irrisório que não chegam nem à metade do valor real do imóvel. A Braskem tem um lucro anual exorbitante e tem direcionado um patrocínio milionário ao programa BBB23 da TV Globo, mas tem tripudiado sobre as suas vítimas em Maceió. A publicidade que faz sobre preocupação com a sustentabilidade e responsabilidade social é uma farsa”.

Com a carta, Maurício tem o objetivo de divulgar o afundamento do solo em cinco bairros de Maceió em decorrência da mineração de sal-gema pela Braskem. “O maior crime ambiental do Mundo em áreas urbanas não pode ficar escondido pela força do poder econômico”, disse.

O representante relata também uma grande sensação de impotência. “Lutar contra o capital provoca essa sensação. No entanto, aprendi em minha militância que enquanto tivermos força para lutar e voz para bradarmos alto pela defesa do povo não devemos desistir da luta. Esse é um dos motivos principais de estarmos aqui em Porto Alegre. Resistência.”

Para o representante da Associação dos Empreendedores do Pinheiro, Alexandre Sampaio, a inserção da Braskem no BBB23 busca limpar a imagem da empresa no âmbito nacional. “Ela [Braskem] apenas silencia quem devia estar denunciando, silencia a imprensa, a Rede Globo, que deveria estar apontando o maior crime ambiental do mundo em área urbana, mas não o faz, porque está sendo patrocinada. Faz parte de um grande jogo de cena. Eles jogam sujo em Alagoas para ver se limpa na bolsa de valores e na opinião pública nacional”, declarou o empresário.

BRASKEM

Procurada, a Braskem reafirmou seu compromisso como a maior produtora de resinas plásticas do país e que atua de forma responsável na questão ambiental. “Com esse objetivo, a Braskem vem desenvolvendo, ao longo dos anos, uma série de práticas educacionais em ações de patrocínio e mídias de massa, buscando levar, através de experiências, a importância das pequenas atitudes do dia a dia na construção de um futuro cada vez mais sustentável.”

A empresa reiterou ainda que vem cumprindo rigorosamente os acordos firmados com as autoridades, priorizando a segurança das pessoas e a solução do fenômeno geológico, permitindo ainda que os moradores realocados sejam indenizados de maneira justa, no menor tempo possível. 

Por Gabriely Castelo com Tribuna Independente