Afetados por crime ambiental em Maceió ainda lutam por justiça
Após anos do maior afundamento de solo da América do Sul, o problema continua. Moradores e comerciantes dos bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol ainda lutam por justiça após perderem seus imóveis. Os valores das indenizações pagas ainda causam sentimento de injustiça nos mais afetados.
Dorival Silva dos Santos, aposentado, 77 anos, saiu do Pinheiro há 2 anos e meio. A avaliação da sua propriedade foi feita por um engenheiro que já foi funcionário da petroquímica Braskem. “Construí a casa em 1993. Ela foi avaliada em R$ 817 mil, me pagaram R$ 580 mil e eu peguei, porque é melhor o pouco no bolso, que o muito voando. Agora estou morando na Djalma Mendonça, na Gruta de Lourdes. A Braskem também me indenizou um apartamento no fundo da Paróquia Menino Jesus Praga, já destruíram tudo lá, não tem mais sinal de igreja”, disse.
Para Pedro Gabriel, dono do Estúdio Wave, localizado no Pinheiro, não existe indenização justa. A Braskem se tornou dona dos bairros afetados, com lucro imobiliário altíssimo. “Primeiro, não existe indenização. O que existe é a compra dos imóveis. Os danos materiais, morais e psicológicos que eles fazem um cálculo é tabelado. Somos obrigados a aceitar o que eles oferecem. Caso contrário é judicializado e o morador fica obrigado a aceitar até menos do que foi oferecido inicialmente. O judiciário não trabalha a favor dos mais frágeis”. Manifestou.
INDENIZAÇÕES
Conforme a Braskem, já foram pagos R$ 3,2 bilhões aos moradores das localidades afetadas, somados aos auxílios financeiros e honorários de advogados. Até dezembro, no último balanço realizado pela mineradora, 18.600 propostas foram apresentadas e 15.400 indenizações foram pagas.
Quanto às propriedades comerciais, 4.369 foram realocados ou estão em processo de mudança. 6.066 pedidos iniciaram o fluxo de compensação. 5.922 propostas foram apresentadas e 4.553 indenizações foram pagas.
Patrocínio da Braskem no BBB23 vende imagem de uma empresa sustentável
Enquanto as indenizações às famílias afetadas pelo afundamento do solo na capital são considerada abaixo do valor de mercado, a Braskem investe valor milionário por patrocíno no BBB23, “reality show” da Rede Globo.
O patrocínio milionário no programa vende a imagem de uma empresa “sustentável”. Isso gerou reações negativas entre os maceioenses.
Para Alexandre Sampaio, presidente da Associação de Empreendedores do Pinheiro, com a ação publicitária, a empresa busca apenas limpar a imagem no âmbito nacional.
“Ela [a Braskem] apenas silencia quem devia estar denunciando, silencia a imprensa, a Rede Globo, que deveria estar apontando o maior crime ambiental do mundo em área urbana, mas não o faz, porque está sendo patrocinada. Faz parte de um grande jogo de cena. Eles jogam sujo em Alagoas para ver se limpa na bolsa de valores e na opinião pública nacional”, declarou o Alexandre Sampaio.
Em nota, a mineradora respondeu que vem cumprindo rigorosamente os acordos firmados com as autoridades locais. “Por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação, mais de 98% dos moradores das áreas de desocupação e monitoramento definidas pela Defesa Civil já foram realocados preventivamente. Até o final de 2022, 18.618 propostas de compensação foram apresentadas, o que equivale a 99,7% de todas as propostas previstas.”
A Braskem informou ainda que está desenvolvendo ações previstas no Termo de Acordo Socioambiental assinado com o poder público, para mitigar, compensar ou reparar eventuais impactos causados pela desocupação dos bairros.
A empresa explica que possui o compromisso de engajar e promover economia circular. Por isso, vem desenvolvendo, ao longo dos anos, uma série de ações educacionais em ações e mídias de massa, buscando impactar positivamente a sociedade. “O BBB é hoje um dos programas de maior audiência no país, e sensibilizar sua audiência para a importância do descarte correto dos materiais plásticos tem o objetivo de conscientizar que o plástico descartado corretamente é reciclado e volta como benefício para a sociedade.”
O CASO
Desde 2018, Maceió sofre com os impactos do afundamento do solo, que iniciou no bairro do Pinheiro e se estendeu aos bairros vizinhos, Mutange, Bom Parto, Farol e Bebedouro. Segundo informação do Serviço Geológico do Brasil, publicada pela BBC News Brasil, 35 minas foram abertas durante a atividade da mineradora em Maceió.
A petroquímica Braskem extraiu sal-gema durante quatro décadas embaixo de um território urbano, na capital alagoana. A atividade deixou crateras abertas abaixo do solo que chegavam ao tamanho de um campo de futebol.