22 de novembro de 2024

Pais denunciam que prefeito quer que estudantes se humilhem pedindo transporte em Tapera

Estudantes estão pagando vans com dinheiro dos pais para poderem ir as aulas nas cidades vizinhas, enquanto õnibus escolares estão parados na garagem da prefeitura. Foto: Cortesia

Estudantes de cursos técnicos e de faculdades em cidades no Sertão de Alagoas iniciaram a semana temerosos por conta de que em algumas instituições as aulas já começaram e muitos deles (as) não sabem quando vão poder retornar para as aulas por falta de transporte.

A situação envolve estudantes de São José da Tapera, onde o prefeito Jarbas Ricardo (MDB) não liberou a frota de ônibus escolares para transportar os estudantes que moram no município e que estudam em outras cidades.

Nas ruas, estudantes e pais têm expressado a revolta.

“Tenho filhos que estudam enfermagem à noite lá em Olho D’água das Flores, e as aulas já começaram e eles não estão indo porque o prefeito não quer liberar o ônibus. Isso não tem cabimento. Ele sabe que os meninos precisam estudar”, afirmou o comerciante José Pereira dos Santos.

A dona de casa Eudocia Maria, mãe de outra estudante em Olho D’água das Flores, confirmou a denúncia e acrescentou:

“Minha filha e outras meninas estão indo à noite de van e nós pais é que estamos pagando a ida e a volta. A prefeitura tem quase 13 ônibus e tem motoristas, mas o prefeito todos os anos exige que nós e nossos filhos cheguemos aos pés dele para implorar pelo transporte. Aqui em Tapera é assim. Ou mendiga ou o prefeito mata na unha”, desabafou a mulher.

Por enquanto, apenas quem estuda no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), que iniciou as aulas deste ano na segunda-feira (16), garantiu o transporte.

“Conseguimos porque ameaçamos fazer um protesto e aí o nosso presidente do grêmio falou com o prefeito, que autorizou o ônibus. Se não fosse assim, com toda a certeza, estávamos sem transporte até agora”, disse um aluno do curso de zootecnia do Ifal.

Os estudantes também denunciam as péssimas condições de limpeza e conservação dos ôninus municipais. Muitos estão com os vidros das janelas quebrados e quando chove os alunos são obrigados a sentarem em bancos sujos e molhados. Também existe denúncias de que os veículos não são limpos por dentro.

“Só quem sabe da sujeira que são esses ônibus de Tapera somos nós. Vidros quebrados, bancos sujos, mosquitos. Estou terminando meu curso lá no Ifal e nunca vi eses ônibus serem limpos por dentro. Os novos tão piores que os velhos. Total vergonha”, desabafou um aluno do Ifal.

Nas redes sociais muitos alunos também expressam a revolta. Alguns, em contato com o secretário da Educação de Tapera, Renildo de Oliveira, teriam ouvido dele que era preciso fazer uma lista de todos os alunos do município que estudam em outras cidades para levar, junto com uma comissão, ao prefeito a fim de serem autorizados e irem para as escolas nos ônibus escolares.

Outros estudantes, também nas redes sociais, falam que são ‘humilhados’ pelo prefeito.

Alunos de cursos noturnos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Santana do Ipanema, também estão sem direito ao transporte público.

“O prefeito é midiático. Vive mais fora de Tapera do que no município. Ele se completa com as pessoas nos pés dele pedindo favores ou vales em dinheiro de R$ 100. Esse concurso que ele tá prometendo todos sabem que será um número mínimo de vagas. Vai fazer por fazer e fará de qualquer jeito. Em Tapera não tem empregos e a educação é uma utopia. Ele não quer que ninguém estude para não entender das coisas e contestá-lo. O transporte escolar é direito por lei e ele faz isso com a gente. Estamos pagando transporte com nosso dinheiro para podermos estudar, enquanto ele vai entregar carros em postos de saúde fechados e carros-pipa para molhar os jardins numa cidade sem água nos sítios”, falou um universitário da Ufal.

E as denúncias são muitas. Em meio à crise da falta de transporte para os alunos, um grupo de contratados (pessoal sem concurso público) foi surpreendido por uma ordem do prefeito, que os demitiu.

“O Jarbas demitiu todo mundo que era contratado. Ele tem falado que vai fazer concurso porque a Justiça tá mandando e que a gente tinha que ser demitido, mas que depois a gente fosse lá [na prefeitura] para ajeitar. Tem posto de saúde que tá quase sem ninguém. Vigilantes, motoristas e até professores foram para a rua. Tá quase tudo parado”, afirmou um vigilante que trabalhava em um posto de saúde.

Uma professora aposentada, que tinha uma filha contratada e ensinava em uma escola no povoado Brejinho, zona rural, confirmou as demissões.

“Minha filha foi contratada depois que procurei o prefeito para pedir um emprego para ela. Agora ela e muitas amigas da gente foram todas demitidas. Na verdade, o que ele quer é economizar o dinheiro dos contratados para fazer outras coisas e depois vai contratando todo mundo de novo. É só falar com ele. Sempre é assim com ele. Se não for assim, as escolas não abrem. As escolas nos sítios só estão funcionando por milagre. Nem água mineral tem para os meninos. É água de poço sujo. Merenda é um bicho. Não tem material para os meninos e eles não conseguem ler nem escrever. Vá de surpresa nas escolas dos sítios e veja com seus próprios olhos”, afirmou a aposentada.

Procurados, ninguém da prefeitura quis responder as denúncias. A propósito, a Prefeitura de São José da Tapera não tem assessoria oficial de comunicação.  

Por Correio Notícia