Alunos acusam dono de empresa do golpe da formatura
O sonho de formatura se tornou um pesadelo para uma turma do curso de Técnico de Enfermagem do Centro Educacional de Ensino Santa Juliana. A festa, que incluía colação de grau e baile, não aconteceu após os alunos, conforme relatos, terem sido vítimas de um golpe e só descobrirem a situação na última sexta-feira (13). Nesta quinta-feira (19), quando ocorreria a formatura, as vítimas devem comparecer à Polícia Civil para registrar um Boletim de Ocorrência contra o cerimonialista Felipe Lima .
Segundo alunos que se sentem lesados, eles efetuaram todo o pagamento para a realização do baile, incluindo o valor do aluguel do espaço onde a festa ocorreria. No entanto, o cerimonialista, responsável pelo recebimento do dinheiro, não havia feito o pagamento para os fornecedores, assim, não havia pagamento para o baile, ornamentação, buffet, bandas, DJs e nem iluminação. Além disso, ele teria pago apenas 50% do valor do aluguel do espaço onde o evento seria realizado.
Segundo uma das formandas e oradora escolhida pela turma, Lucélia Cassiano, além do susto, do prejuízo financeiro, a questão emocional é “algo sem precedentes”. Conforme explicou, a formação em enfermagem é um projeto de vida e a formatura seria a conclusão com “chave de ouro” desse novo passo para todos.
Lucélia diz ter contratado os serviços do cerimonialista e que investiu recursos em maquiagem, roupas para ela, os filhos e o marido, bem como senhas extras para que amigos e familiares tivessem acesso ao baile. Num primeiro levantamento, ela diz que teve um prejuízo financeiro de R$ 1.400 reais.
“Paguei os R$ 600 de forma parcelada, com R$ 300 reais à vista. Paguei isso com o apoio do meu esposo, pois não trabalho. E, para outras coisas ainda tive a ajuda dos meus pais. A formatura ocorreria amanhã no Espaço Fama no Trapiche da Barra”, disse com voz embargada.
Ela conta que tanto ela, quanto outros colegas estão desolados com crises de choro e a sensação “terrível de terem sido enganados”. Segundo Lucélia, houve um excesso de confiança de toda a turma, mas porque o cerimonialista já havia feito outros eventos com turmas do centro educacional.
“Claro que agora fica aquela sensação de que deveríamos ter checado mais detalhes. Mas, a verdade é que confiamos porque ele sempre fez os eventos com outras turmas. Isso nós confirmamos com outros alunos”, completou a formanda vítima do golpe.
Os formandos em enfermagem ficaram sem a formatura, o baile e as fotos. Eles fizeram as imagens em estúdio, na praia e na escadaria da Associação Comercial. Mas, como a empresa contratada para as fotografias também não recebeu, nenhum dos registros foram liberados.
Silêncio
Segundo os formados, o último contato telefônico que Felipe atendeu da Comissão de Formatura foi na segunda-feira (16), quando teria disto que estava tentando resolver os detalhes para que o evento ocorresse.
“Num primeiro momento ele disse que tudo era um mal entendido e que teve a conta bancária bloqueada, mas que estava resolvendo e que daria tempo fazer o evento acontecer. Mas, depois não atendeu mais as ligações e ninguém o encontra. Descobrimos que até o endereço que tem no contrato que assinou não é o dele”, lembrou a estudante de enfermagem.
Ela acrescenta que, em meio ao choro, revolta e a sensação de que foram lesados, Felipe continuava mantendo contato com representante de outras turmas do Centro Educacional. Lucélia revela que, a partir do momento que os alunos souberam do problema, descobriram que turmas de outras instituições de ensino também foram lesados da mesma forma.
Em média, o prejuízo, segundo os denunciantes, gira em torno de R$ 60 mil a R$ 90 mil por turma, a depender da oferta de serviços, do número de convidados, presença de um ou dois DJs, além de bandas para animar a noite.
Apoio jurídico
Os estudantes procuraram apoio jurídico com o objetivo reaver na Justiça os valores que gastaram. Conforme explicou a advogada Adriana Mendonça, que representa uma das turmas lesadas, a reparação do dano financeiro é um caminho possível no momento. Por isso, o primeiro passo é o registro da ocorrência para que seja aberto um inquérito policial.
“Por outro lado tem o dano emocional que é irreparável. Estamos lidando com o sonho de estudantes e famílias inteiras que muitas vezes tiraram de onde não tinham para pagar os cursos e, posteriormente, o próprio evento. E eles também estão abalados”, explicou a advogada.
A advogada cita o caso de uma das estudantes do curso de pedagogia, que também aponta ter sido do vítima do mesmo golpe. “Essa pessoa é a primeira da família a ter um curso superior. A mãe é empregada doméstica e ela até o final de semana passado trabalhou para ganhar R$ 200 reais e pagar por copos personalizados para a festa. Imagine a frustração agora. Admito que quando ouvi o que cada um passou cheguei a chorar com eles”, contou Adriana.
Defesa
O cerimonialista Felipe Lima divulgou uma nota nas redes sociais na última segunda-feira (16). Na publicação, ele se defende das acusações e cita alguns eventos das quais foi apontado como suspeito de aplicar um golpe. Ele diz que, em um dos eventos, a formatura irá ocorrer em outra data daquela prevista e que uma comissão de pais está providenciando uma nota data para a festa.
“Em nenhum momento dissemos que não iria ter evento, mesmo com déficit nos pagamentos e com pessoas ainda que desistiram sem pagar a formatura”, ele se explica, citando que, para outra formatura, a festa foi realizada no último final de semana. “Quem continuar postando falsas acusações estaremos tirando prints e acionando o jurídico, até porque tem prints com ameaças de morte e incitação a violência e isso é totalmente crime. Em breve voltamos com mais esclarecimentos”, afirmou em nota.
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