Caso Marcelle Christine: ex-companheiro condenado a 27 anos por feminicídio brutal

Por Rafaela Tenório
Um ano e dois meses após um dos crimes mais brutais já registrados em Maceió, a Justiça condenou Cícero Messias da Silva Júnior a 27 anos e 1 mês de prisão em regime fechado pelo assassinato da farmacêutica Marcelle Christine de Bulhões, de 37 anos. O julgamento foi concluído na noite desta segunda-feira (26), no salão do júri da 8ª Vara Criminal da Capital.
O crime ocorreu no dia 8 de março de 2023, data simbólica em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. Marcelle foi morta com pedradas, no bairro Cidade Universitária, após recusar reatar o relacionamento com o réu, seu ex-companheiro. A violência do ataque e o fato de ter sido testemunhado pelo próprio filho da vítima causaram indignação e comoção em toda a sociedade alagoana.
Durante o julgamento, o Ministério Público do Estado de Alagoas, representado pelo promotor Tácito Yuri, sustentou que o crime foi cometido com três qualificadoras: motivo fútil, meio cruel e feminicídio, este último por se tratar de um homicídio motivado pela condição de gênero da vítima.
“Ela foi morta por exercer seu direito de dizer não. Por decidir que não voltaria a um relacionamento que lhe fazia mal. Isso é feminicídio em sua forma mais brutal”, afirmou o promotor em sua fala ao júri.
A condenação foi recebida com lágrimas e alívio pelos familiares. O filho da vítima, Matheus, acompanhou o julgamento em silêncio. Emocionado, chorou em diversos momentos ao ouvir os detalhes do crime e a leitura da sentença. Ele presenciou o assassinato da mãe — uma ferida que, segundo a família, jamais se curará.
A defesa de Cícero Messias ainda pode recorrer da decisão, mas a sentença já foi considerada um passo importante na responsabilização da violência contra a mulher em Alagoas.
O caso de Marcelle não é isolado. Alagoas, assim como o restante do Brasil, enfrenta um crescimento alarmante nos casos de feminicídio. Segundo dados mais recentes, o país registra, em média, quatro mulheres assassinadas por dia, vítimas da violência de gênero.
A morte de Marcelle, em uma data que deveria celebrar os avanços femininos na sociedade, expôs de forma trágica como ainda há um longo caminho a percorrer na proteção da vida das mulheres.
Marcelle era farmacêutica, mãe, mulher independente e querida por colegas e amigos. Sua morte transformou sua história em símbolo. Para muitos, o julgamento desta semana não encerra o sofrimento, mas representa um marco na busca por justiça para todas as mulheres que, como ela, apenas quiseram viver em paz.