21 de fevereiro de 2025

Uso de tadalafila como pré-treino: o perigo por trás da nova febre das academias

antibiotico-remedio-comprimido-cloroquina (1)

Medicamentos – Foto: Reprodução

Impulsionado por redes sociais e relatos informais, o uso da tadalafila, medicamento indicado para disfunção erétil e hiperplasia prostática, cresceu de forma alarmante no Brasil. Apenas no primeiro semestre de 2024, mais de 31 milhões de caixas foram comercializadas, colocando o fármaco entre os mais vendidos do país.

Esse crescimento tem um motivo e a preocupação de especialistas: o uso indiscriminado da substância como pré-treino em academias. Muitos jovens passaram a consumir o medicamento sem prescrição, acreditando que ele poderia melhorar a performance e a vascularização muscular. No entanto, os médicos alertam que não há comprovação científica para esses supostos benefícios e o uso sem orientação pode trazer riscos graves.

Experiência de um fisiculturista

O fisiculturista Rodrigo Matos utilizou a substância por um curto período, entre 2021 e 2022, e relatou que os efeitos não foram os esperados. “Quando iniciei o uso, foi buscando melhorar a performance no treino. Mas eu nunca usei o tadalafila sozinho, sempre junto com outros suplementos. Usei por dois ou três meses, mas logo percebi que ele não trazia um benefício agudo, como um pré-treino tradicional”, explica Rodrigo.

Ele destaca que não sofreu efeitos colaterais no uso diário, mas quando tomou uma dose de 10 mg para outro fim, teve reações adversas. “Senti uma dor de cabeça forte, respiração muito ofegante, como se tivesse tomado uma dose alta de cafeína. Se você consumir mais do que a dose clínica, pode ter problemas sérios”, alerta.

Ele também comenta que, na comunidade fitness, a percepção sobre a tadalafila já mudou. “A galera que entende do assunto já sabe que tadalafila não funciona como pré-treino. Quem continua tomando está usando para outro motivo, geralmente por causa da performance sexual”, afirma.

A professora do curso de Educação Física da Estácio, Tamiris Frazão, reforça que não há evidências científicas conclusivas que justifiquem o uso da tadalafila como pré-treino. “Existem poucos estudos sobre a substância nesse contexto, e os resultados são inconclusivos. O mais importante para um praticante de musculação é priorizar a segurança. Se há necessidade real de suplementação, ela deve ser prescrita por um profissional e baseada em produtos com respaldo científico”, explica.

Ela destaca que há métodos comprovadamente eficazes para melhorar a circulação sanguínea e o desempenho no treino, como exercícios regulares, alimentação equilibrada e boas noites de sono. “Além de treinos aeróbicos e resistidos, a hidratação adequada, a qualidade do sono e até técnicas de massagem podem ajudar a estimular o fluxo sanguíneo, sem a necessidade de substâncias que não tenham segurança comprovada”, orienta Tamiris.

Já o farmacêutico Josimar Girão, docente do curso de Farmácia na Estácio, alerta para os riscos do uso indevido da substância: “Esse não é um medicamento isento de prescrição, ou seja, necessita de receituário médico para sua dispensação. No entanto, alguns estabelecimentos acabam vendendo sem essa exigência. Temos observado um aumento do consumo entre homens de 18 a 30 anos, especialmente como pré-treino, o que é preocupante. O uso indiscriminado pode causar efeitos colaterais como dor de cabeça, rubor facial, queda abrupta de pressão e, em casos mais graves, infarto e acidentes vasculares encefálicos. Por isso, é essencial que o uso seja feito apenas com acompanhamento médico.”

Riscos do uso indiscriminado

Embora seja vendido sem retenção de receita, o uso indiscriminado da tadalafila pode trazer riscos sérios à saúde. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão dores musculares, queda de pressão e cefaléia intensa. Em doses elevadas, o medicamento pode provocar problemas cardiovasculares e interações perigosas com outras substâncias.
Especialistas alertam ainda para o risco da dependência psicológica. Algumas pessoas passam a acreditar que não conseguem um bom desempenho, seja na academia ou na vida sexual, sem o medicamento.

“A orientação é clara: qualquer substância que altere o funcionamento do organismo deve ser usada sob prescrição e acompanhamento médico. No caso da tadalafila, a busca por resultados rápidos na academia pode ter um custo alto para a saúde’, finaliza Tamiris.

Por Assessoria