25 de novembro de 2024

100 ANOS DE ARAPIRACA, E AÍ?!

Arapiraca comemora 100 anos de emancipação no próximo 30 de outubro. E o ato que a tornou livre nos leva à reflexão sobre o que é a cidade e o que ela poderia ser.

     Entender que tornar livre um território vai além da sua autonomia política  e da autogestão instalada é fundamental para a conclusão da análise proposta. A emancipação é uma ação revolucionária  que traz consigo a esperança no futuro. Esse sentimento, junto ao orgulho de fazer parte desse movimento, arrebata os moradores  de tal forma que é difícil encontrar quem dele não compartilhe. A partir daí, todos tendem a  ver aquele como o seu lugar de oportunidades e passam,  mesmo inconscientemente, a construir os caminhos que unem o seu crescimento pessoal ao desenvolvimento da cidade.

     Se concordamos com o parágrafo anterior, juntos já podemos tirar do ato de emancipação a sua primeira lição: – um ato político que empodera cidadãos impulsiona a  participação deles na construção da comunidade, torna-os condutor do desenvolvimento e pessoas interessadas nos destinos da cidade.

     Tendo em mente o empoderamento dos cidadãos, podemos passar para a segunda lição e ela está ligada à atmosfera política que envolve o ato político libertador: – sendo a emancipação dotada de energia insubmissa não há  compatibilidade entre ela e o alcance do poder político apenas para alguns. A insubmissão que alimenta todo processo de construção da liberdade também  faz nascer novas lideranças, independentemente  dos desejos daqueles que se ocuparam da sua execução.

     A terceira lição é a confirmação das duas anteriores e explica o cenário atual de Arapiraca: – na ausência das duas primeiras condições (empoderamento dos cidadãos e da insubmissão que cria novas lideranças) o desenvolvimento alcançado é pontual e impulsionado, na maioria das vezes, pelas políticas adotadas pelos governos das instâncias superiores com a tímida participação dos gestores locais.

     Desse modo, a esperança de antes vai, aos poucos, sendo substituída pelo desinteresse nos negócios públicos municipais e pela descrença na política como o caminho para se resolver os problemas da comunidade. Com isso se enterra, parcialmente, aquela que parecia ser a vocação de Arapiraca – ser uma cidade  desenvolvida.

     Ainda assim, dado à sua localização e o crescimento alcançado, ainda que limitado, Arapiraca  é uma cidade de grande porte em relação às cidades alagoanas e de médio porte em relação às cidades brasileiras. Isso faz com que ela apresente características das duas.

     Não é preciso ser especialista para perceber, chegando em Arapiraca, que ela é o polo econômico da região, atributo das grandes urbanizações. Avizinhada por cidades de pequeno porte, Arapiraca é vista pelos que moram além dos seus limites como o lugar para comprar e vender produtos, contratar e oferecer serviços, ou seja, o lugar que oportuniza negócios e isso é muito bom! Entretanto,  a atração dessas transações alimenta apenas o que já existe, dado que não traz nenhuma inovação. Como efeito colateral, a circulação de pessoas e produtos causa problemas de trânsito, que somente com a construção de vias de escoamento não são solucionados.

     É  necessária a construção de um ambiente de negócio capaz de produzir um novo marco de desenvolvimento. E aqui não se está falando de produzir inovação  a partir do nada. É possível fazer inovações na prestação dos serviços e na produção de produtos que já existem e obter selos de qualidade reconhecidos nacionalmente, como os selos de indicação geográfica. Quanto ao trânsito, pensando no desenvolvimento futuro, é preciso um plano de mobilidade que inclua transportes coletivos, com diferentes modais, que além de desobstruir as ruas, dará às pessoas que moram nos pontos mais distantes do centro politico, comercial e cultural de Arapiraca a possibilidade de exercer a sua cidadania e usufruir daquilo que a cidade oferece.

     Como cidade média, são as políticas sociais que acabam sendo pressionadas. Além de alguns serviços de saúde apresentarem complexidade acima da capacidade de atendimento  das cidades pequenas exigindo de Arapiraca esse suporte, existe a tendência dos moradores dos municípios vizinhos de considerarem como melhores os serviços educacionais dos arapiraquenses, aumentando a sua demanda.

     Parece um contrassenso indicar como saída a melhoria constante desses serviços, posto que isso faria crescer ainda mais a procura por vagas, mas é isso mesmo. Não há desenvolvimento possível sem investimentos nas pessoas. Mas para que isso ocorra de forma continuada é  preciso que os arapiraquenses se afastem dos conservadores agarrados aos ideais de violência, negacionistas do desequilíbrio climático e dos conhecimentos  científicos; tomem distância dos aliados dos sequestradores dos orçamentos públicos; matem a apatia política  na qual estão envolvidos; vistam-se da energia insubmissa que alimentou a primeira emancipação e promovam uma nova onda de liberdade e esperança no futuro.

Por Lúcia Barbosa