Obra de ciclovia está longe de terminar em Maceió
A mobilidade urbana é uma questão que apresenta problemas em Maceió. Uma coisa que poderia melhorar isso seria se mais pessoas utilizassem bicicletas como meio de transporte, ao invés do carro. A Prefeitura de Maceió está construindo uma ciclovia que deve percorrer 4,8km entre a Praça do Centenário, na Avenida Fernandes Lima, e a Tupan, na Avenida Durval de Góes Monteiro, mas a obra que deveria levar 1 ano já dura 2, e ainda está longe de terminar.
A insatisfação de quem ainda não pode usufruir do serviço é grande. Charles Henrique Alves espera o fim da obra para adotar a bicicleta como meio de transporte. “Não utilizo pois não sinto segurança andar entre os carros. São poucos os trechos com ciclovia”.
Acompanhando as notícias desde o início, ele reclama do descumprimento do prazo. “O projeto está com um ano de atraso e pelo jeito ainda não será agora que irão terminar. Pelo tempo de obra eles poderiam levar a ciclovia até o viaduto da antiga Polícia Rodoviária e com isso mais pessoas iriam usar a ciclovia”. Ele também defende a ampliação do trecho que não está no projeto. “Poderia criar uma ciclofaixa da Praça Centenário até a praia, o que ajudaria muito”.
Ele reforça as vantagens que prevê com a ampliação do trecho. “A ciclovia fará grande diferença. Muitos não usam bicicleta por medo. O trânsito irá melhorar, não tanto, mas vai melhorar. Eu mesmo pretendo usar a nova ciclovia pois o tempo que gasto de carro será o mesmo usando bicicleta”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), atualmente 200 mil pessoas utilizam a bicicleta para se locomover em Maceió. O órgão afirma que a obra está sendo concluída. “Já foram concretados mais de 98% de toda a ciclovia, aplicados mais de 7km de meio-fio e já foi iniciada a instalação dos guarda-corpos, placas de sinalização, pavimentação em piso intertravado, acessibilidade, decks de madeira e a sinalização horizontal da ciclovia”.
E os outros trechos são considerados projetos futuros. “A Prefeitura de Maceió já tem Projeto para a execução dos outros trechos da Ciclovia, dando continuidade do bairro do Canaã até a Tupan (Etapa 1) e da Tupan até o viaduto da antiga Polícia Rodoviária Federal (Etapa 2)”.
A parte da ciclovia que já está pronta tem sido utilizada e recebido elogios. Matheus Pimentel utiliza a bicicleta diariamente como meio de transporte secundário. “Para a minha rotina, como eu uso bastante a região do Farol, está sendo bem útil”. Mas ele também tem críticas. “O problema que eu estou encontrando é justamente nas terminações que tem entre calçada e ciclovia, que acho que ainda não terminaram. Aí está atrapalhando um pouco o percurso, mas nada que deixe ela inutilizável”.
Matheus considera os pontos positivos. “Eu diria que para os ciclistas melhorou a questão da segurança, porque não precisa mais estar entre os carros para dividir a pista da Fernandes Lima. E conforto também, porque como as faixas são largas é possível um movimento bacana indo e vindo. Achei tranquilo e seguro”.
Hoje, ele já consegue fazer todo o percurso pela ciclofaixa e sente muita diferença. “Normalmente quando não andava de transporte público eu ia de bicicleta até a região da Casa Vieira. Aí pela Fernandes lima era perigoso”.
Silvio Eugênio também já está usando a ciclovia. “Todos os dias vou trabalhar e passear, sempre de bicicleta. Agora melhorou, apesar de passar dois anos para ser concluída. Pelo menos o trecho que eu circulo da Pitanguinha até a Centenário está melhor. Para mim melhorou bastante para não estar dividindo espaço com os carros. Trabalho na Jatiúca, vou pelo Feitosa, mas a Fernandes lima é muito mais insegura”.
Levando o filho pequeno junto na bicicleta, ele conta os benefícios que encontra no veículo. “Prefiro andar de bicicleta primeiro para economizar, para aumentar o meu salário. Segundo porque é mais saudável”.
Lideranças de ciclistas apontam falhas no projeto: “insatisfatório”
Juliana Agra, do Coletivo de Ciclistas Urbanos de Maceió – CicloMobilidade, analisa o projeto como insatisfatório. “Ressalto: melhor isto que nada. Garante que não seremos atropelados. Mas tomaremos mais tempo pra chegar que antes”.
Agra explica que há diversas normas e consensos no que se diz respeito a boas práticas na construção de ciclovias. “Existe uma grande necessidade de ciclovia na Fernandes Lima, visto o número alto de cliclistas que utilizam a via sem nenhuma segurança. Entretanto vê-se que, mais uma vez, a obra não foi pensada para a bicicleta como um meio de transporte. A sinuosidade e largura da faixa dificultam o uso para quem se desloca diariamente, pois afetam a velocidade média de deslocamento, num veículo movido a propulsão humana. Isso é um fator importante.”.
A Associação Alagoana de Ciclismo também não vê o projeto com bons olhos. “Não é um bom projeto. Um projeto cheio de curvas fechadas, cheios de aclives e declives, cheios de empecilhos para os ciclistas, com árvores nas beiradas das ciclovias algumas caindo pra cima dos ciclistas. As árvores não são nossas inimigas, pelo contrário, são importantíssimas para o sombreamento e por manter o conforto térmico. Entretanto, como o meio ambiente aprova, se poderia tirar as árvores com o intuito de se plantar três por cada árvore suprimida. Então se poderia fazer uma ciclovia com muito menos curvas fechadas e que atenderia aos ciclistas com mais entusiasmo”, disse o presidente Antônio Facchinetti.
Até a segurança dos ciclistas ele acredita que não está garantida. “No projeto existe um elemento que deveria ser realmente um guarda corpo e nada mais é que uma cerca, que além de não proteger os ciclistas podem fazer com que os mesmos caiam e venham a parar sobre a pista dos veículos motorizados. Tanto por causa de sua altura como pelo fato de serem formados por colunas e por longarinas e colocados imediatamente do lado da ciclovia”.
A Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) afirma que atualmente Maceió conta com 58,6km de malha cicloviária, sendo 20,7km implantados nos 2 anos da atual gestão. “A SMTT tem plano de ampliar a malha cicloviária para outras regiões da cidade e também aumentar trechos já existentes. Os locais são definidos a partir de estudos por parte da Diretoria de Obras Viárias do órgão municipal”.
Ainda segundo o órgão, 30 bairros de Maceió já contam com malha cicloviária. São eles: Barro Duro, Benedito Bentes, Canaã, Centro, Cidade Universitária, Clima Bom, Cruz das Almas, Farol, Feitosa, Gruta de Lourdes, Guaxuma, Jacarecica, Jaraguá, Jatiúca, Levada, Ouro Preto, Pajuçara, Pinheiro, Pitanguinha, Ponta Grossa, Ponta Verde, Pontal da Barra, Prado, Santa Lúcia, Santos Dumont, São Jorge, Serraria, Tabuleiro dos Martins, Trapiche da Barra e Vergel do Lago. “Novas implantações já estão previstas para iniciarem em 2023”.
“Na realidade, não existe malha cicloviária em Maceió”, diz associação
Antônio Facchinetti, presidente da Associação Alagoana de Ciclismo-AAC, vai mais fundo nas críticas. “Na realidade, não existe malha cicloviária em Maceió, porque os cerca de 40km existentes atualmente estão praticamente todos fora dos conceitos técnicos para serem considerados como ciclovias bidirecionais como são inicialmente chamados. Desses 40km temos, por exemplo, os da orla lagunar, cerca de 9km que estão totalmente degradados e depredados pela própria população. Recentemente, apenas 2 quilômetros desses foram renovados pela Prefeitura para atender ao conjunto novo que estão terminando de construir ali”.
Ao mencionar inúmeros fatores que descaracterizam o padrão, Facchinetti menciona questões como largura e sinalização.
“Os problemas começam com isso e terminam pela falta total de interesse dos nossos gestores municipais sobre essa excelente alternativa de transportes, onde as ciclovias estão padecendo pela falta de manutenção na infraestrutura que já se mostram desmanteladas, com os tijolos sendo roubados pela população, como é caso em Jaraguá, por toda sorte de usuários inadequados e consequentemente pela falta de fiscalização. Frequentemente as ciclovias e ciclofaixas de Maceió são usadas por carrinhos de picolé, de pipocas, de acarajé, motociclistas, pedestres etc”.
Os ciclistas, na visão da AAC, não têm boas condições de trafegar com segurança na cidade. “Justamente pela falta da infraestrutura cicloviária como também pelos assaltos constantes aos ciclistas levando suas bicicletas. Assaltos (com armas) e roubos”. Ele define o que seria uma situação ideal. “Nossa infraestrutura cicloviária, para atender aos ciclistas, precisaria ter cerca de 800 quilômetros. Quando falamos de infraestrutura cicloviária, não são apenas ciclovias, temos ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas, e calçadas compartilhadas. Precisamos também de paraciclos, bicicletários, bombas para encher pneus. Portanto, o que temos gira em torno de 5% da infraestrutura necessária para a nossa cidade ser boa para os ciclistas”.
Ele finaliza com mais uma crítica à estrutura da cidade. “Outro fato de insegurança para os ciclistas são os inúmeros buracos existentes em nossas ruas e avenidas que tanto provocam deslocamentos dos veículos motorizados em zigzag como dos ciclistas que assim podem provocar acidentes”.
Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente