Ex-aluno impede fechamento do Colégio Sacramento
A notícia do fechamento de uma das escolas mais tradicionais de Maceió causou comoção em outubro desse ano. Por falta de condições de continuar, as irmãs sacramentinas decidiram encerrar as atividades do Colégio Santíssimo Sacramento. Com a repercussão, muitos ex-alunos mobilizaram as redes sociais, e um em especial decidiu salvar o colégio.
“Eu sou cria daqui desse colégio. Terminei meus estudos aqui, tenho uma história muito forte dentro do colégio. Faz parte da minha história, da minha formação pessoal e moral. Essa foi uma história [o anúncio do fechamento] que doeu em mim”, é assim que Jorge França começa o seu relato, sobre como se voltou para o colégio 40 anos depois de ter se formado lá.
“Até agora eu fico emocionado quando falo. Não tô acreditando de ter estudado aqui, iniciado minha vida aqui dentro e hoje ser proprietário do colégio que estudei. Resgate da história minha, fica passando um filme na cabeça. Há poucas semanas teve evento dos ex-alunos e reencontrei vários alunos e professores no shopping, foi maravilhoso. A torcida é emocionante”.
Mas a decisão não foi movida só pela emoção. “Com a visão empresarial que a gente tem, enxergamos um grande negócio. Foi aí que tudo começou. Vim aqui conversar com as irmãs sobre o que estava acontecendo, e as elas começaram a relatar as situações. Início da pandemia, evasão de alunos, situações de bolsas integrais que tinham muitas. Foi um conjunto de situações que levaram o colégio a financeiramente não ser viável. Depois fiz o meu estudo de que seria um negócio viável se tomasse algumas providencias administrativas”.
Para manter o diferencial do colégio, ele colocou condições diferentes de um negócio comum. “A proposta foi adquirir o colégio com duas observações muito fortes: Só entraria se o colégio continuasse com o mesmo nome a as irmãs continuassem morando e fazendo o trabalho religioso que sempre fizeram. A essência do colégio iria continuar”.
A primeira medida foi transformar o quadro com decisões difíceis. “Demos uma reformada grande no quadro de funcionários, mudamos 70% dos professores. Demissões tiveram que acontecer, funcionários menos. Tinha funcionários e professores bons, mas desmotivados, sem condições de ofertar o que tem de melhor. Escolher os melhores. Aqueles que queriam vestir a camisa, abraçaram o projeto”.
Em seguida foi em busca de professores renomados no mercado. “Professor Walder, Daniel Camerino, Giuliano, Tainan… Os melhores professores hoje fazem parte do quadro do Colégio Sacramento. São cogitados por todos os colégios grandes e, com o nome do Sacramento, a gente conseguiu, abraçaram o projeto”. Também foi retomado o ensino infantil, depois de dois anos parado e garante que estão se surpreendendo com a procura por matrículas.
Irmãs sacramentinas continuam comandando a parte religiosa
A Irmã Jamire Marinho fala sobre a jornada difícil enfrentada por elas. “Anunciamos o fechamento e pra a gente foi um momento muito triste. Porque é uma história de muito tempo, de vitórias de conquistas. Muita coisa boa aconteceu aqui, mas infelizmente chegou o momento que a gente não tinha condições de continuar com o colégio”.
Ela muda de expressão ao falar sobre a mudança de planos. “De repente aconteceu a maravilha. O Jorge nos procurou, ex-aluno muito interessado, perguntou se a gente queria passar pra ele, mas deixando claro que queria a presença das irmãs sacramentinas aqui, queria que permanecesse a espiritualidade, o cuidado, que muitos pais nos procuram pela formação espiritual, formação humana que a gente procura dar com muito carinho, muito zelo. Formar essa juventude para fazer a diferença na sociedade com bons valores, bons propósitos de vida”.
Com muita fé, a irmã está entusiasmada com o futuro. “Deus cuida de tudo. A gente crê, a gente tem esperança de que o [Colégio] Sacramento vai voltar a ser o Sacramento que foi e está com muita expectativa, muita oração pra que tudo dê certo na presença de Deus. A gente sabe que se ele tá presente, se é a mão dele, tudo vai pra frente. A gente acredita nisso”.
O Colégio Sacramento pertencia à congregação das irmãs do Santíssimo Sacramento, fundada em 1715 na França, e veio para o Brasil em 1903. “Estamos completando 120 anos no próximo ano. Em 1904 veio para Maceió. Tem outros colégios pelo Brasil, na Bahia e em São Paulo. Mas só Alagoas precisou fechar”, relata Jamire.
O novo proprietário diz estar muito satisfeito com a relação com as irmãs. “Se tornou relação de filho pra mãe. Me abraçaram de uma forma que me sinto muito feliz. Me acolheram, confiaram, acreditaram no projeto, estão emocionadas e felizes. Seria de uma tristeza grande o colégio fechar. Juntamos forças eu na parte administrativa e elas na religiosa para manter o colégio erguido e buscar o lugar que sempre foi o dele, 1º lugar no ensino de Alagoas”.
Formanda de 98 se emociona ao voltar ao colégio com as filhas
Daiana Ferreira Sales esteve na escola para apresentá-la às filhas e se emocionou com as lembranças. “Estudei aqui do maternal até o ensino médio. Terminando o 3º ano em 1998. Fiquei muito triste, porque um grande sonho que tinha era colocar minhas duas filhas aqui. Estava me programando para colocar a mais velha, de 10 anos, quando recebi a notícia e fiquei muito triste. A avó paterna delas tinha trabalhado aqui, a minha mãe trabalhou aqui, sendo professora de história e geografia e foi muito triste receber a notícia”.
Ela conta que não sabia o que fazer, mas continuou acompanhando. “A gente não se mobilizou, não teve conhecimento de como poderia ajudar, mas ficou acompanhando as notícias, e teve conhecimento que não ia mais fechar, que um ex-aluno tomou a frente de tudo e resolveu dar continuidade. Decidimos colocar as meninas no colégio e continuar a história que foi da minha mãe, minha e da minha irmã, que também estudou aqui”.
Ao olhar para as paredes do colégio, ela se emociona. “Entrar aqui é maravilhoso, emocionante. São muitas lembranças na verdade, não tem como se emocionar, não ficar feliz. Aqui é toda uma história, eu tenho três grupos de WhatsApp de ex-alunos e todo dia a gente conversa, traz recordações, depois de passar por todas as salas que estudei, todas as lembranças que tive, é muito bom”.
Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independente