22 de novembro de 2024

MP denuncia comerciante por homicídio quadruplamente qualificado contra ex-companheira

Assassinato foi enquadrado com o agravante do feminicídio porque a vítima foi morta pela simples condição de ser mulher – Foto: Reprodução

Homicídio quadruplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel, sem chance de defesa da vítima e com o agravante do feminicídio: foi com base nessa acusação que o Ministério Público do Estado de Alagoas denunciou, na última sexta-feira (24), Jeferson Marcos Timóteo da Silva. Ele assassinou a ex-mulher, Carla Janiere da Silva Barros, com cinco tiros, no dia 14 deste mês, após discutir com a vítima no interior da loja que pertencia ao casal.

A ação penal foi proposta pela promotora de Justiça Ilda Regina Reis, titular da Promotoria de Justiça de Murici. Segundo ela explicou nos autos, Carla Janiere da Silva Barros foi morta com “cinco projéteis de arma de fogo nas regiões escapular direita, ombro direito e face esquerda, sendo dois dos cinco disparos realizados à curta distância – queima à roupa”.

A denúncia também levou como base o parecer técnico conclusivo quanto à causa da morte. A vítima veio a óbito por decorrência de “choque hipovolêmico, ou seja, perda de sangue provocada por ação de instrumento perfuro-contundente (projétil de arma de fogo), com emprego de meios insidioso e cruel, este caracterizado pelo disparo à curta distância contra a região infra-orbital da vítima, qual lhe causou deformidade na face”.

Relação abusiva


A ação penal revela detalhes do relacionamento abusivo vivido por Carla Janiere da Silva Barros. “Não diferente, diante das declarações das testemunhas, inegável que o crime não só teve natureza doméstica e familiar, como também, fora motivada pela condição do sexo feminino, porquanto era notório entre populares que a vítima estava sendo submetida a um relacionamento abusivo, que ia desde agressões físicas à psicológicas, voltadas ao controle e submissão da vítima ao seu companheiro, ora denunciado. Infelizmente, a jovem empresária com futuro promissor, teve seus sonhos tolhidos, sua vida arrancada de forma brutal pelo próprio marido, que impunha submissão e subserviência ao mesmo”, diz um trecho da denúncia.

Os autos também trazem depoimentos de várias testemunhas e, uma delas, ao ser ouvida pela autoridade policial, contou que Jeferson Marcos pediu demissão da empresa onde trabalhava anteriormente para ficar trabalhando exclusivamente na loja inaugurada pelo casal dias antes da tragédia acontecer. “Ele queria ter controle total da vida da vítima e não deixava a Carla falar com as pessoas na rua, com amigos ou familiares e, se ela o desobedecesse, apanhava”, contou Cícera Maria da Silva, avó da mulher assassinada.

“Estamos diante de mais um caso onde a mulher não pode ter direito à dignidade, não pode ter sucesso na vida profissional, devendo fazer parte do patrimônio marital. Infelizmente, a Carla Janiere entrou para as estatísticas de vítimas de feminicídio no país, tendo sido assassinada em razão da sua condição do sexo feminino”, declarou a promotora Ilda Regina Reis.

As qualificadoras do homicídio


Jeferson Marcos Timóteo da Silva está sendo acusado pelo Ministério Público da prática de homicídio quadruplamente qualificado. O motivo torpe foi comprovado porque o réu possuía intenso sentimento de posse sobre a vítima, de modo que, sem justa provocação dela ou razões prévias que justificassem o fato, praticou a conduta do homicídio.

O meio cruel foi evidenciado não só no número excessivo de disparos realizados, dos quais cinco efetivamente atingiram à vítima, como também no fato de que, embora já houvesse atingido a sua companheira com três tiros, o réu ainda atirou à queima-roupa contra o ombro e o rosto da ex-mulher.

Já o recurso que impediu a defesa da vítima também se fez presente, pois, sem esperar tamanha agressão do companheiro, Carla Janiere da Silva Barros viu-se detida dentro do próprio estabelecimento comercial, tendo sido agredida logo em seguida, sem qualquer possibilidade de se livrar do crime.

Por fim, o assassinato foi enquadrado com o agravante do feminicídio porque a vítima foi morta pela simples condição de ser mulher.

Carla Janiere da Silva Barros foi assassinada no dia 14 deste mês, dentro da própria loja, após o marido iniciar uma discussão com ela. Uma colaboradora que trabalhava no estabelecimento comercial contou à polícia que, após a discussão do casal, Jeferson Marcos Timóteo da Silva começou a quebrar os móveis e a se comportar de maneira ainda mais agressiva. Em seguida, ele foi ao seu veículo e retornou ao local com uma arma de fogo, tendo segurado a vítima pelo pescoço e efetuado o primeiro disparo. Os demais tiros vieram na sequência. A funcionária ainda acionou o SAMU para prestar socorro à Carla, porém, quando a equipe chegou, ela já estava sem vida.

Por MPAL