22 de novembro de 2024

Exclusivo: Em entrevista ao Jornal de Arapiraca, pai de Marcelo Leite contesta versão da polícia

Foto: Roberto Baía

Marcelo foi alvejado com um tiro de fuzil deflagrado por policiais em uma operação desastrosa em Arapiraca; após 21 dias internado ele faleceu em um hospital de São Paulo

 “Meu filho morreu sem a menor chance de defesa, sem saber nem o que estava acontecendo”. A declaração é do empresário Thalles Leite, pai do jovem empresário Marcelo Leite, que foi alvejado pelas costas com um tiro de fuzil, deflagrado durante uma “operação” desastrosa de policiais militares do 3º BPM de Arapiraca. O caso ocorreu no dia 14 de novembro último e Marcelo veio a falecer no Hospital Beneficência Portuguesa do Mirante, em São Paulo, no último dia 5 de dezembro, depois de ter sido transferido de hospitais de Arapiraca e Maceió.

O empresário Thalles Leite recebeu, na manhã de quarta-feira a equipe do Jornal de Arapiraca no empreendimento da família, onde Marcelo trabalhava ao lado do pai, a irmã e o cunhado, como diretor operacional. Abalado, o pai questiona a ação desproporcional da polícia e cobra justiça para que outras famílias não passem pelo sofrimento que a sua está enfrentando. Thalles convidou os jornalistas Roberto Baía e Lysanne Ferro para conhecer a sala em que Marcelo trabalhava. Emocionado, ele falou que aquela era a primeira vez que entrava na sala após a sua morte e fez questão de relembrar a parceria com o filho. Leia na íntegra, a entrevista concedida ao Jornal de Arapiraca.

Jornal de Arapiraca –  Em que ponto está a investigação agora?

Thalles Leite – Eu estive com os advogados na sexta-feira passada e eles me passaram que as investigações estão sendo feitas por uma comissão de delegados de Maceió. Já foram recolhidos testemunhos, provas e estão aguardando o laudo da perícia do carro e das armas para dar prosseguimento. Foi esgotado os 30 dias e foi pedido uma prorrogação de mais 30 dias. O processo dentro da comissão dos delegados está andando. Agora, fui notificado também que até a segunda-feira, a Corregedoria da Polícia Militar não tinha produzido nada, nem ouvido os envolvidos ainda. 

JA – A versão dos policiais de que ele estava em alta velocidade já caiu por terra, o que realmente aconteceu naquela noite?

TL –  No entendimento geral, pelas imagens do vídeo e o profundo conhecimento que eu tenho do meu filho, nada da versão dos policiais bate e pelas provas e o que foi levantado até agora, tudo isso vai ser rebatido a seu tempo, a questão da alta velocidade, de passar no quebra-mola, que diga-se de passagem não é crime passar em alta velocidade, é uma contravenção de trânsito e a questão dele querer furar a barreira policial.

JA – Teve também a questão da arma, as impressões digitais da arma foram recolhidas?

TL – O mesmo perito que fez a perícia no veículo e nas armas, falta entregar o laudo. Mas, nós da família, categoricamente, refuta essa questão de porte de arma, isso é impossível por três motivos: Marcelo não era bandido, é um homem de bem, trabalhador, Marcelo não tinha desafetos e ele tinha verdadeira aversão a armas, tanto ele quanto a irmã. Meu filho jamais possuiu e jamais possuiria uma arma, isso eu posso dizer com certeza absoluta. Quem em sã consciência acredita que uma pessoa que está imprimindo fuga vai dar sinal para fazer o retorno? É uma história descabida, assim como a ação, a reação do policial foi de um despreparo gigantesco, desproporcional, meu filho morreu sem a menor chance de defesa, sem saber nem o que estava acontecendo.

JA – Neste sábado (17), a família e os amigos de Marcelo realizaram um ato por justiça, como foi essa união e o ato?

TL – O ato foi promovido por pessoas da sociedade, porque não é mais o caso da morte de meu filho, não é mais um caso de violência que eu quero justiça, é a sociedade que deve se movimentar para cobrar saber se realmente nós estamos seguros ou não, será que nós não podemos mais sair a noite para fazer uma compra? É a sociedade que pede justiça, não é mais só eu.

JA – Além do caso do Marcelo, o ato clamou por justiça por Danilo Fernando, jovem assassinado aos 17 anos durante uma abordagem militar, que segundo circula na internet, um dos policiais envolvidos também está envolvido na abordagem do seu filho, como foi essa articulação?

TL – Eu não conhecia o caso do Danilo até a semana passada, quando o movimento resolveu se unir, já que os casos tinham semelhanças . Tive a oportunidade de conhecer a família do Danilo e a luta deles é pela mesma coisa, justiça.

JA – Até agora a Polícia Militar se posicionou? Vocês foram procurados?

TL – Não, até agora nenhum posicionamento oficial da Polícia Militar, segundo os meus advogados, apenas uma palavra do Secretário de Segurança, de que estava acompanhando o caso, ele e o  governador estavam acompanhando o caso de perto. Eu acredito que deve haver um pronunciamento depois do fim do inquérito policial.

JA – Os policiais foram afastados?
TL – Pra ser sincero, eu não sei nem o nome dessas pessoas, porque eu nunca quis saber o nome dos envolvidos, porque pra mim não importa. A gente quer saber de nome quando a gente pensa em vingança e eu não quero vingança, queremos justiça. Eu quero apenas que sejam levantados os fatos, meu filho que foi injustiçado, foi difamado e foi atingido de forma mortal, eu quero que seja apurado e seja feita a justiça e quem tem a sua culpa que pague. Marcelo era uma peça importante nessa empresa, ele começava a trabalhar de 8h, muitas vezes fechava a empresa. Um menino pacato, honesto, eu nunca tive uma reclamação de brigas, discussão, pra gente é impressionante que a vida dele tenha sido ceifada dessa forma, é surreal.

JA – O que vocês esperam agora?

TL – A importância da polícia militar é indiscutível, mas é preciso ver onde estão os exageros. Marcelo morreu de forma cruel, e se houvesse mulheres dentro do carro, se houvesse crianças? Nós vamos lutar por justiça até o final, meu filho está morto e nada vai trazer ele de volta, mas é para que outras famílias não passem o que a gente está passando. É uma dor imensurável, parece que seu peito vai explodir. Onde eu olho aqui, eu vejo o meu filho, era meu braço direito, meu diretor operacional. Além de tirarem a vida do meu filho, estão passando uma visão deturpada de quem era Marcelo, porque quem conheceu meu filho sabia a pessoa maravilhosa que ele era. 

Fonte: Jornal de Arapiraca/ Roberto Baia e Lysanne Ferro