Técnica inovadora faz Ufal avançar no diagnóstico da esquistossomose
Após três anos de pesquisas, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) avança no desenvolvimento de uma técnica inovadora para o diagnóstico da esquistossomose no Brasil. O novo método está em fase final de validação, e a expectativa dos pesquisadores envolvidos no projeto é que ele passe a ser distribuído em larga escala no país em aproximadamente um ano.
A técnica consiste na identificação de casos de esquistossomose em pacientes que apresentam uma baixa carga parasitária, como explica o professor e cientista Wagnner Porto, que lidera um grupo de pesquisa no Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Ufal. A iniciativa conta com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Fiocruz.
“Com o programa de controle da esquistossomose e com o tratamento anual das pessoas infectadas, a gente tem percebido que a carga parasitária vem se tornando cada vez mais baixa e que alguns casos acabam não sendo identificados pelas técnicas usuais. Então, a gente está desenvolvendo técnicas que conseguem identificar quem não elimina grande quantidade de ovos”, expôs Wagnner Porto.
Embora o novo modelo de diagnóstico ainda aguarde validação final, as pesquisas desenvolvidas no ICBS têm repercutido no meio acadêmico. Além da publicação em revistas científicas e da apresentação de resumos em congressos, as investigações resultaram em relatórios de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso e dissertações de mestrado.
Conforme Wagnner Porto, a validação do novo método depende, atualmente, apenas da ampliação do número de pessoas alcançadas pela pesquisa. Nos últimos três anos, mais de 600 pessoas foram atendidas pelos pesquisadores, número ainda considerado insuficiente. A expectativa é que a validação do novo modelo aconteça dentro de um curto período de tempo, que pode vir a ser de até um ano.
“Para validar uma nova técnica imunológica, a gente precisa de um painel de pacientes bastante extenso e bem caracterizado. Então, a gente está ampliando esse painel para fazer novos testes. Acredito que em um ano aproximadamente a gente estará com os dados bem consolidados, bem analisados. E aí, sim, essa técnica será validada para distribuição de forma mais ampla para a população”, acrescentou o cientista.
Wagnner Porto lembra que o diagnóstico e o tratamento são apenas parte das ações de combate à esquistossomose. Segundo ele, é importante que os gestores públicos atuem na principal causa de transmissão da doença: o saneamento básico precário. Neste sentido, a Ufal vem desenvolvendo ações em parceria com o poder público, orientando gestores e capacitando quem atua no atendimento a pacientes.
“Nosso laboratório firmou parceria com a Prefeitura de Viçosa, cidade onde iniciei o meu trabalho e minhas pesquisas na Ufal. Também estamos, há cerca de um ano, atuando com a Prefeitura de Maceió. A gente tem intensificado nossas pesquisas em áreas consideradas endêmicas, auxiliando os agentes de saúde, para que eles orientem as pessoas mais carentes dessas áreas”, completou Porto.
Integração
As novas técnicas para o diagnóstico da esquistossomose resultam da integração entre ensino, pesquisa e extensão. O laboratório comandado pelo professor Wagnner Porto na Ufal conta, atualmente, com oito pesquisadores, distribuídos entre estudantes da graduação de cursos da área de Saúde, de mestrado, de doutorado e de pós-doutorado, sob a supervisão de professores da Universidade.
“A gente consegue fazer com que o estudante visualize, na prática, o conteúdo que ele lê nos livros. Além disso, o projeto faz a interface com a extensão, porque, apesar de ser trabalho de pesquisa, é feito um trabalho de educação em saúde que se assemelha muito com a extensão. Dessa forma, a gente contempla o tripé da Universidade, que é o ensino, a pesquisa e a extensão”, ressaltou o cientista.
Uma das participantes das ações desenvolvidas no Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da Ufal é a estudante de graduação Rose Avelino, que passou a fazer parte do grupo de cientistas por meio de um projeto de iniciação científica. Mesmo após a finalização do projeto, ela segue engajada em novas pesquisas, que devem resultar no seu trabalho de conclusão de curso.
“Na graduação, a gente se depara com um conteúdo muito extenso. Ter foco em determinada área ajuda bastante. Agora, por exemplo, estou participando de um projeto científico que engloba vários estados brasileiros para investigar uma demanda negligenciada, que é o Schistosoma mansoni. A pesquisa vai agregar muito à minha formação, por tudo o que a gente vem pesquisando e pelos resultados obtidos. Vamos dar uma resposta para a população e também para a saúde pública de um modo geral”, observou Rose Avelino.
A pós-doutoranda Flávia Damasceno é uma das participantes da pesquisa. Formada pela Ufal, a pesquisadora fez mestrado, doutorado e pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP). “A proposta do meu estágio pós-doutoral é padronizar novas técnicas para diagnóstico da esquistossomose. A adesão a esse projeto contribui muito com a minha formação, porque me possibilita conhecer a realidade do estado de Alagoas. Essa é uma área em que nunca trabalhei e que, sem dúvidas, vai agregar muito à minha formação”.
Esquistossomose
A esquistossomose, conhecida como “barriga d’água” ou “doença do caramujo”, é uma doença parasitária, que está relacionada ao saneamento precário. A enfermidade é causada pelo Schistosoma mansoni. As pessoas contaminadas adquirem a infecção quando entram em contato com água doce onde existam caramujos infectados pelos vermes causadores da esquistossomose.
O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados, de acordo com o MS. Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e sexo, pode ser infectada com o parasita da esquistossomose.
Por Eduardo Almeida / Ascom Ufal