Número de denúncias de violência contra a pessoa idosa sobe 87% em Alagoas
Alagoas registrou um aumento de 87,27% no número de denúncias de violência contra a pessoa idosa, por meio do Disque 100, entre os meses de janeiro e maio deste ano, se comparado com o mesmo período do ano anterior. Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), foram registradas 412 denúncias, nos cinco primeiros meses deste ano, e 220 denúncias, no mesmo período de 2022.
De acordo com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o número de denúncias representa a quantidade de relatos de violação de direitos humanos envolvendo uma vítima e um suspeito, sendo que uma denúncia pode conter uma ou mais violações de direitos humanos. Já as violações configuram qualquer fato que atente ou viole os direitos humanos de uma vítima como, por exemplo, maus tratos e exploração sexual.
Para o gerontólogo e fundador do Movimento Vidas Idosas Importam, Crismédio Costa, são necessárias políticas públicas efetivas para combater a violência contra a pessoa idosa não só em Alagoas, mas em todo o país. “Precisamos copiar experiências exitosas como, por exemplo, a Patrulha Maria da Penha, o Disque Pessoa Idosa, uma delegacia especializada. Não adianta uma delegacia de referência porque, tanto a pessoa idosa quanto a pessoa com deficiência, precisam de uma abordagem qualificada, humanizada, especializada. Hoje, Alagoas é um estado envelhecido, o Brasil está caminhando para ser a sexta maior população idosa do planeta e com isso aumenta a demanda, o cuidado e a atenção necessária”, afirmou.
Segundo Costa, há muitas subnotificações de violência contra a pessoa idosa por serem, em sua maioria, cometidos por pessoas próximas. “A pessoa idosa convive com pessoas que considera confiáveis, que tem laços afetivos e, muitas vezes, essa pessoa idosa não teve acesso à educação. Então, ela depende dessas pessoas que considera confiáveis, por exemplo, para sacar o seu benefício, fazer uma compra, confiar o cartão de crédito, pedir um carro por aplicativo. Às vezes, até percebe uma redução na sua renda e pode desconfiar, mas não tem a coragem de julgar, prefere manter o laço afetivo”, explicou.
O gerontólogo destaca ainda a necessidade de os profissionais que lidam com a pessoa idosa ficarem atentos para identificar os sinais de violência. “A pessoa idosa pode expressar através de sinais, ela demonstra no olhar, evita falar sobre aquela pessoa para os profissionais. Não é uma captação fácil, é preciso ter uma abordagem muito bem-feita para conseguir captar os sinais de violência, que são diversas”, disse.
Somente em janeiro, SSP verificou 47 casos de maus-tratos a idosos
No mês de janeiro deste ano, uma operação realizada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) verificou 47 denúncias de maus-tratos a idosos nas cidades de Maceió, Marechal Deodoro, Satuba, Rio Largo, Arapiraca e Craíbas, todas recebidas pelo Disque-Denúncia.
No município de Craíbas, um homem de 31 anos foi preso pelo crime de maus-tratos. Conforme denúncia recebida pelo 181, ele agredia a própria mãe e a obrigava a entregar o salário. A idosa, de 60 anos, estava há dois dias sem conseguir entrar em casa devido às ameaças sofridas pelo filho.
Já em Maceió, foi verificada uma denúncia de idoso abandonado no Vale do Reginaldo. Conforme o relato recebido pelo Disque-Denúncia, o homem aparentava problemas mentais e morava sozinho em uma residência sem condições dignas de sobrevivência.
No local, o homem estava deitado em um colchão na sala e se alimentava graças aos vizinhos, que sempre levavam refeições. Ele foi levado para uma casa de acolhimento.
Em março deste ano, uma idosa precisou ser internada no Hospital Metropolitano porque ficou em estado de desnutrição. A filha da idosa reteve o cartão magnético de benefício da mãe e não deu nenhuma assistência alimentar e de saúde.
MORTES VIOLENTAS
A Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), por meio da Comissão Especial do Idoso, contabilizou 34 mortes violentas contra pessoas com mais de 60 anos, sendo 32 contra homens e duas contra mulheres, durante o ano de 2022, em Alagoas. Um aumento de 10%, se comparado com 2021, quando foram registradas 31 mortes.
Durante o ano de 2022, o município com o maior número de idosos vítimas de morte violenta foi Maceió, com seis ocorrências. Entre as cidades do interior, as que mais apresentaram casos foram Arapiraca, Rio Largo, Penedo, Coruripe e União dos Palmares, com dois casos cada um.
De acordo com a Comissão Especial do Idoso, entre as vítimas do último ano, quinze delas foram alvos de disparos de arma de fogo; nove foram atingidas por arma branca ou instrumentos contundentes; cinco foram alvos de espancamento, socos e pontapés; uma foi vítima de pauladas e quatro não tiveram a causa divulgada.
Por Luciana Beder – Colaboradora com Tribuna Independente